CLEÓPATRA - UMA DAS RAINHAS MAIS CALUNIADAS DA HISTÓRIA

Cleópatra – uma Biografia da autora norte americana, vencedora do Prêmio Pulitzer, Stacy Schiff. O livro se propõe a ser uma biografia histórica da rainha egípcia Cleópatra (nascida em 69 e falecida em 30 antes de Cristo).

Capa da edição em português de 2011.

Provavelmente nenhuma outra rainha egípcia foi tão explorada pela mídia e pelas obras de arte quanto Cleópatra. No entanto, sua verdadeira história é completamente desconhecida. Por exemplo, não sabemos como era o seu rosto muito menos as condições de sua morte (desculpa, galera, mas não teve picada de cobra cinematográfica!). Sua imagem foi muito associada a uma promiscuidade sexual, que, na verdade, nunca existiu. Na verdade, é muito provável que ela fosse feia. Confira a reportagem do History Channel sobre como era o rosto de Cleópatra, clicando aqui. Nefertiti é uma rainha que temos o rosto, mas não sabemos a História, Cleópatra é uma rainha que (achamos que) sabemos a História, mas não temos o rosto.
Cleópatra foi a última rainha de dinastia ptolomaica. Os ptolomeus eram gregos da Macedônia, que dominaram o Egito, e atribuíam a sua origem a Alexandre, o Grande. Possivelmente Cleópatra não fosse loira, mas ela não possuía as características raciais do povo egípcio, como, por exemplo, uma pele morena. Quando Cleópatra subiu ao trono, as pirâmides e a esfinge já haviam sido construídas há mais de 2.000 anos e inclusive já haviam sido pichadas por “turistas” e reformadas. As pichações mais comuns eram “Fulano de tal esteve aqui”.
Cleópatra é um nome grego que significa “orgulho de sua pátria”, aliás, a sua língua mãe era grego, mas Cleópatra falava outras nove línguas fluentemente. Ela foi a primeira governante ptolomaica a falar egípcio, fato considerado surpreendente para época, devido à dificuldade de aprendizado do idioma. Ela foi treinada para o governo e teve uma formação completa. Seu palácio ficava em Alexandria, o centro cultural e econômico do mundo naquela época.
Numa lista contemporânea, Cleópatra estaria entre as 20 pessoas mais ricas do mundo, contando todas as riquezas que já foram acumuladas até hoje. Seu maior problema é que todos os seus biógrafos foram homens e os primeiros romanos. O mais antigo deles viveu 100 anos depois de sua morte. Ou seja, ninguém que escreveu sobre Cleópatra realmente a conheceu. E o Império Romano tinha um certo ódio de mulheres ricas e poderosas que vieram a se tornar seus inimigos de estado. A maneira mais antiga de se difamar uma mulher é supervalorizar seus atributos sexuais em detrimento de sua inteligência.

Stacy Schiff, autora e vencedora do Prêmio Pulitzer pelo jornalistmo histórico.

A autora Stacy Schiff é mais enfática nas questões políticas e de governo, mais do que no “romantismo”. Por exemplo, um historiador atribui o fato de Arsínoe (irmã de Cleópatra) ter tentado um golpe de estado para tomar o governo do Egito, por estar apaixonada por Júlio César, “caso contrário ela não seria mulher”. Isso é simplesmente ridículo. Arsínoe era uma princesa ambiciosa, que queria governar o país mais rico do mundo (todo mundo queria, até eu!). Se o plano dela tivesse dado certo, muito provavelmente ela teria mandado matar Júlio César para se livrar de um problema de governo. A versão do “amor de quinta série” só pode ter raízes no machismo impregnado em nossas mentes.
Segundo a autora, possivelmente Júlio César foi a primeira experiência sexual de Cleópatra. Ela concebeu um filho dele em Alexandria. Júlio César voltou para Roma. Alguns anos depois, Cleópatra foi visita-lo em Roma. Ele reconheceu o filho (o único que ele teve em toda a vida, apesar das várias mulheres). Ele foi assassinado nessa época. Roma ficou numa situação política tensa e Cleópatra voltou grávida para Alexandria. Mas, me parece, que ela perde essa criança.
Anos mais tarde, ela conhece Marco Antônio. Não se sabe quem seduziu quem, mas eles ficam juntos por quase 10 anos e tem 3 filhos. Essa união entre os dois impérios mais poderosos do mundo (Roma e Alexandria) faz subir as ambições de todos. Marco Antônio tem um grande inimigo em Roma, Otaviano, que quer o poder só para si (e acaba conseguindo por mais de 60 anos). Otaviano declara guerra a Marco Antônio e para não dizer que é uma guerra “pelo poder de governar o mundo”, lança uma campanha difamatória contra Cleópatra. Foi daí que a imagem da rainha prostituta surgiu.
Marco Antônio se suicida durante o cerco de Otaviano contra Alexandria. Cleópatra é capturada viva. Otaviano tinha muito medo que ela se matasse e queimasse o tesouro do Egito junto. Oficialmente a intenção de Otaviano era leva-la viva para Roma, onde ela seria obrigada a desfilar em público como um prêmio de guerra e depois executada. Não se sabe como, ela e duas pajens driblaram a segurança e foram encontradas mortas. Seus corpos estavam quentes e estáticos, sem nenhuma expressão de sofrimento, uma das pajens ainda estava viva quando os guardas chegaram, só falou uma frase e morreu. Foi uma morte indolor e rápida. É altamente improvável que uma cobra conseguisse picar e matar três mulheres em sequência. Além disso, a picada de cobra causa uma dor tremenda, a pessoa morre em agonia com os músculos todos contraídos. É altamente provável que elas tomaram veneno, mas não sabemos qual e quem levou até elas.
Seu último pedido foi ser enterrada com Marco Antônio, o qual foi atendido por Otaviano. Hoje não sabemos mais onde era a tumba dos dois. Todos os descendentes de Cleópatra foram assassinados ou desapareceram dos registros oficiais.

Capa da edição em português de 2012. 

Uma história fascinante por ser bem mais próxima da realidade e da verdadeira. Além deste livro sobre Cleópatra, uma amiga falou muito bem da coleção Memórias de Cleópatra (3 volumes) da autora Margaret George. Ainda não li, mas está na lista.

Capa da edição em português de 2014.

Se você gostar dessa obra, recomendo a leitura da biografia da imperatriz chinesa Cixi, A Imperatriz de Ferro – A Concubina que criou a China Moderna. Relembre o que já comentamos sobre ela, clicando aqui.
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Comentários

  1. Mais uma resenha fantástica, Lia! Toda a cultura, poder e rica história foram apagadas para dar lugar a lendas sobre sua vida privada, muito triste! Parabéns ao belíssimo trabalho de Stacy Schiff, de pesquisar a história por trás da mitologia sobre esta grande rainha!

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