UMA EXPERIÊNCIA TRANSFORMADORA EM GALTAJI (ÍNDIA)


Cheguei ontem de viagem. Foram duas semanas na Índia, uma de turismo e outra para atender a conferência da WCTR (World Conference of Transportation Research), Conferência Mundial de Pesquisas em Transportes. Só lembrando, apesar de estar ajudando a divulgar a produção científica brasileira no exterior, eu custeei essa viagem às minhas custas. Como pouquíssimos pesquisadores no Brasil, podem fazer. Essa conferência acontece a cada três anos e a próxima será em 2022 em Montreal no Canadá.
Para chegar na Índia, fui pela Ethiopian Airlines (excelente companhia, uma das melhores com quem eu já voei até hoje, estou fazendo esse marketing de graça). Foram quase três dias de viagem só para ir e dois dias para voltar (já que eu moro no interior de São Paulo e tenho que me deslocar até o aeroporto de Guarulhos). Tanto na ida quanto na volta, fiz conexão em Adis Abeba, capital da Etiópia.
Na ida, fiz uma conexão de 20 horas na capital etíope e aproveitei para conhecer a cidade. A Etiópia me surpreendeu muito positivamente como país e quero voltar para lá. É um lugar fantástico. Eu me arrisco a dizer até que gostei mais do que a Índia em alguns aspectos.


Primeira piscina de Galtaji.

Mas agora quero começar contando a experiência mais fantástica que eu tive na Índia. Eu tive alguns problemas (bem sérios) na chegada em Nova Delhi. Acabei sendo empurrada para um programa mais turístico por motivos de segurança. Ao todo, a viagem ficou muito mais cara do que eu planejei. Mas eu pude conhecer mais lugares e tive um motorista para me levar. Eles ficaram tentando me forçar a comprar coisas o tempo todo, o que foi extremamente irritante para mim.
Em um certo momento, chegamos na cidade de Jaipur, capital do Rajastão. Lá tem um templo conhecido como Templo dos Macacos, para eles, chamado Galtaji. Eu cheguei lá irada com toda a exploração que eu estava sofrendo como turista. Por exemplo, para visitar o castelo onde mora a família real do Rajastão (que não pode ser oficialmente chamado de rei, mas todos os tratam como reis lá), os indianos pagam 200 rúpias, estrangeiros pagam 700 e o lugar nem era tão interessante assim.


Parte central de Galtaji, construída há mais de 1.000 anos, hoje parcialmente abandonada.
Nos templos, eles não cobram pela entrada. Mas tinha, lá na entrada, uma placa que indicava para entrar no templo com celular precisava pagar um tanto de rúpias e para entrar com câmera precisava de outro tanto de rúpias. Além disso, tinha um guarda para fiscalizar. Eu fiquei p... com aquilo e voltei para deixar o celular e câmera no carro. Ao entrar de novo, pensei algo como “Quero viver essa experiência e não vir aqui tirar fotos”.
Passei por um primeiro templo, que tinha a imagem de um macaco, acho que era Raruman. Era bem pequeno. Acho que não cabia ninguém dentro. Depois passei por um segundo templo. Estava ocorrendo uma cerimônia com um monge e cerca de três ou quatro hindus. O monge me chamou para entrar. Eu tirei o sapato e entrei. Ele me explicou algo sobre como fazer as orações e os rituais, amarrou uma fitinha no meu braço para Brahma me proteger e me pediu 500 rúpias. Eu fiquei muito brava com aquilo e falei que não ia dar. Ele falou 200. Eu falei 100. Fechamos em 100. Eu dei cinco notas para ele que eu achava que eram de 20 rúpias, mas ele me corrigiu que eram de 10. Tive que dar mais cinco notas de 10 rúpias.
Sai do templo. Dei poucos passos, coloquei a mão no bolso e achei 1.000 rúpias. Eu nunca deixo dinheiro no bolso externo. Bateu um arrependimento em mim. O monge parecia sério e acreditar naquilo. Não queria brigar o mais humilde dos servidores de Shiva (era um templo para esse deus). Voltei para doar a 1.000 rúpias. O monge ficou muito bravo comigo. Devolvei 90 das rúpias que eu tinha dado para ele e falou que ele ia aceitar só no 10.


O monge e eu (depois de subir e descer Galtaji pela primeira vez).
Fiquei frustrada. Os hindus foram embora e fiquei chorando na escada do templo. O monge saiu e tentou me consolar. Como eu estava chorando, ele até me tocou (o que é expressamente proibido para eles). Para me consolar, ele resolveu caminhar comigo e me mostrar o templo.
A gente foi subindo. Ele me explicou que o nome daquele local é Galtaji, mas que é conhecido como Templo dos Macacos. Eu senti que eles se sentem desrespeitados porque a gente chama um local sagrado deles por um nome desrespeitoso. Passamos pelas principais construções, que hoje estão em péssimas condições, mas que foram construídas a quase 1.000 anos. Lá vivem algumas pessoas, inclusive o mestre desse monge (na Índia, esses guias espirituais são chamados de swamis, quando são homens, e swaminis, quando são mulheres).


Vista de Galtaji a partir da segunda piscina.
Depois passamos por um homem que eu chamo de o mestre dos macacos. Um homem que dedica sua vida a cuidar dos macacos e a quem os macacos obedecem. No primeiro momento, eu tentei pegar os macacos. Mas tive um aprendizado que, na verdade, os macacos é que tem que querer vir até nós. Aliás, como tudo na vida, né?


O mestre dos macacos.

Fomos subindo até a primeira piscina de águas sagradas. Lá não entra ninguém. Depois chegamos à segunda piscina. Do lado dela tem outro templo. As pessoas vêm de lugares distantes para se banhar nas águas de lá. Aproveitei para lavar meu rosto. O monge explicou que os templos têm horários específicos para serem abertos na Índia. Acho que todos os outros estavam fechados naquele horário. Só o que eu entrei estava aberto.
Continuamos subindo pela escada até a terceira piscina com o último templo. Os macacos estavam pulando na água e nadando lá. Também tinha outro templo fechado. Ficamos vários minutos contemplando os macacos.
Depois viemos descendo. O monge me apresentou para o rapaz que é o guia do templo. Também me explicou que aquele era o último dia dele. Eles fazem turnos de 26 dias morando no templo, depois voltam para casa. Ele me apresentou ou monge dos próximos 26 dias, que já tinha chegado. Quando eu passei pelo swami na volta, ele gritou comigo: No Money. No Money from you! Nenhum dinheiro. Nenhum dinheiro de você. Não vamos aceitar nenhum dinheiro de você.


Pintura à mão no templo. Feita há mais de 1.000 anos.

Quando eu voltei lá embaixo, decidi que iria subir tudo de novo para tirar fotos. O mestre dos macacos me disse que os macacos da última piscina já tinham ido embora por causa do sol. Mas que ele chamaria os macacos para brincar comigo e iria comigo até a segunda piscina. Tivemos várias conversas sobre muitas coisas. Recebi muitos ensinamentos para a vida.
Ele subiu comigo. Quase todas essas fotos foi ele quem tirou. Uma senhora quis me abençoar na piscina. Quando os hindus querem abençoar alguém, eles colocam a mão na cabeça da pessoa. O mestre me explicou que era um grupo de peregrinos que tinha vindo de um lugar distante (a centenas de quilômetros dali) a cavalo. Acredito que eles sejam muito pobres e não tenham nenhuma outra condição de vir. Então, é uma peregrinação de uma vida para eles poderem chegar até Galtaji.


Recebendo uma bênção.

Depois, quando voltamos, ficamos todos sentados na escada do templo conversando e comendo prachada (a comida sagrada hindu). Eu entrei em um estado de absoluta calma e tranquilidade espiritual, que durou dias.
Para a maioria dos turistas, Galtaji pode ser só o Templo dos Macacos, um lugar bonito para tirar fotos. Mas, para mim, foi mais do que isso. É realmente um local sagrado. Pesquisando na internet você vai poder saber mais sobre esse local sagrado. Só por essa experiência, já valeu a pena ir para Índia.

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