O QUÊ OS LIVROS RELIGIOSOS REALMENTE ENSINAM SOBRE PANDEMIAS E CRISES?

Boa tarde, pessoal. Estou confinada há uma semana. No começo, foi difícil e eu não foquei em trabalhar e criar uma rotina rigorosa, porque eu achei que fosse passar. Agora caiu a ficha de que, provavelmente, essa situação durará por muito tempo. Eu vim para o confinamento com o computador da minha universidade, então, pertenço a um grupo privilegiado de pessoas, que pode trabalhar agora. Tenho um amigo em uma situação semelhante em Goiânia. Ele está fazendo um diário da situação. Ele falou que está ajudando e pensei em fazer o mesmo. Talvez eu até publique aqui. Além disso, estamos começando a fazer reuniões online com amigos. Isso foi muito útil para pegar dicas e compartilhar soluções. As pessoas estão se articulando e sendo solidárias. Isso é o lado positivo da crise.

Estou lendo este livro e amando.

Eu tinha um tema que eu gostaria de escrever antes do corona vírus (“como pesquisar no acervo digital da Biblioteca Nacional?”). Depois disso, pensei em mudar para livros sobre grandes epidemias mundiais. Mas eu nunca li nada sobre isso, pelo menos, não me lembrei de nenhum. No momento, estou lendo o livro Pélagie-la-Charrette, um romance histórico de Antonine Maillet, uma escritora do Québec que é uma mistura da temática de Graciliano Urbano (grandes migrações humanas forçadas) com o estilo de Guimarães Rosa. É como um Vidas Secas onde a protagonista fosse a Dona Vitória e toda narrativa descrita com estilo regional e inacreditavelmente bem feito.

COMO OS LIVROS DAS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS (CRISTIANISMO, JUDAÍSMO E ISLAMISMO) NOS AJUDAM A ENFRENTAR MOMENTOS DE CRISE?

1.          HÁBITO DE GUARDAR UM DIA POR SEMANA

Mas outro dia, falo mais sobre isso. Quero dizer que o preceito de algumas religiões tem de guardar um dia por semana (por exemplo, os judeus e adventistas guardam o sábado, conforme livro de Levítico capítulo 23, versículo 3, e os muçulmanos guardam a sexta-feira) é muito útil para esses tempos de crise. Com a rotina e a demanda da vida diária, marido e mulher, filhos e pais tendem a se separar, vivendo, cada um, a sua realidade à parte. O preceito de guardar o sábado obriga todos a ficarem juntos dentro de um mesmo local (ou locais) compartilhados, forçando que a família se conheça e se una. Além disso, como não podem trabalhar nesse dia, nem empregar outras pessoas, isso obriga as pessoas a fazer um mínimo de atividades físicas, a se acostumarem a um certo nível de privação, etc. É como uma empresa que faz treinamento de incêndio. Guardar o sábado é também um treinamento para grandes catástrofes. Quando elas acontecem é como escutar “Atenção, isso não é treinamento!”; e continuar a viver conforme o treinamento de uma vida inteira de sábados.  Estou simplificando de uma maneira materialista, pois existe também a parte religiosa, psicológica e espiritual, que é importante.  

Alcorão, livro sagrado do Islamismo. Foto da Wikipédia.


2.          LAVAR AS MÃOS

Outra coisa interessante que veio da Bíblia, do Velho Testamento, e que se repete no Alcorão, é a recomendação de se lavar, lavar as mãos e lavar as roupas. Estou pensando no livro de Levítico, capítulo 15, quando escrevo isto. A Bíblia online que consultei online (leia aqui), divide entre preceitos para o homem (do versículo 1 ao 16) e preceitos para mulher ( do versículo 19 ao 32). A partir do versículo 19, está escrito, de fato, “quando uma mulher”. Mas, no versículo 1, está escrito “alguém”, por que eu não posso entender que “alguém” pode ser um homem ou uma mulher?

Torá, livro sagrado do Judaísmo, equivalente ao Velho Testamento da Bíblia cristão.
Foto da Wikipédia.

Não sei quem coloca esses subtítulos na Bíblia (Levítico para homem e Levítico para mulher), mas tenho certeza de que eles foram colocados muito tempo depois do texto escrito e, provavelmente, de forma equivocada. Tenho minhas dúvidas, até hoje, se os primeiros textos faziam essa distinção. Para mim, é claro que mulheres e homens seguem os primeiros preceitos e mulheres ainda seguem os segundos preceitos. “Corrimento dos órgãos”, para mim, não seria apenas sangue, poderia ser, por exemplo, catarro, pois o texto fala em evitar a saliva de uma pessoa com “corrimento”. O livro de Levítico chama-se Vaicrá (“Chamado de Deus”) em hebraico, e tradicionalmente, acredita-se que ele foi escrito por Moisés. O livro, um compêndio de preceitos práticos, foi mudando e chegou ao seu formato atual entre os anos 500 e 300 antes de Cristo. Estamos falando de um livro terminado há cerca de 2.500 anos. Era visionário obrigar as pessoas a tomar banho, lavar roupas, lavar as mãos e isolar pessoas doentes (chamadas de “impuros”) por uma questão de saúde pública. Ninguém sabia o que era vírus ou micróbio naquela época.

Bíblia de Gutenberg, um dos primeiros livros a ser impresso no mundo. O Brasil é o único país (fora a Alemanha) a ter dois exemplares da Bíblia de Gutenberg. Ambas estão na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. Mas essa foto veio da Wikipédia e é um exemplar da Biblioteca de Nova Iorque.


3.          CUIDAR DA PRÓPRIA SAÚDE E DA DO PRÓXIMO

Uma vez li um texto de um cristão chinês que interpretou 1 Timóteo 4:8 “porque o exercício corporal para pouco se aproveita,...” Esse pastor lembrou que Paulo escreveu “para pouco se aproveita” e não escreveu “não serve para nada”. Como uma pessoa que não está em boas condições de saúde vai visitar doentes ou fazer obras caridosas? (Tenho quase certeza que o religioso que eu li foi o líder cristão chinês Watchman Nee - link para conhecer mais sobre ele na Wikipédia, clicando aqui). Principalmente, nesse período de confinamento, é importante fazer exercícios físicos tanto pelo corpo quanto pela mente. A internet está cheia de dicas de como se exercitar. Eu, pessoalmente, prefiro alongamento e Yoga. Eu não falo de outras religiões como o Budismo, o Hinduísmo ou religiões Afro-Brasileiras, porque eu não as conheço o suficiente para ter uma opinião embasada, mas, provavelmente, elas também tenham um caminho de boas práticas.

Watchman Nee, líder cristão chinês (1903 - 1972).  Na minha opinião, um dos maiores cristão que o mundo já viu.
Foto da Wikipédia.


Por último, assisti um vídeo de um rabino que fala sobre um preceito judaico de cuidar da própria saúde e não prejudicar a saúde de terceiros. Por isso, a importância de respeitarmos o confinamento e colaborarmos para que essa doença não se propague.  Segue o vídeo abaixo. Não concordo ou apoio tudo que este rabino fala (aliás, como eu não concordo nem apoio tudo que ninguém fala, temos de ter sempre discernimento), mas concordo com os preceitos que ele pregou sobre o corona vírus e a necessidade de não acreditar em bobagens da internet.



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Comentários

  1. Estava esperando com ânsias seu post! como sempre uma excelente leitura, valeu pelas dicas e pela informação!. Boa semana para você também

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    1. Muito obrigada pelo feedback! Vou escrever com mais frequência.

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  2. Excelente texto, Isotilia. Parabéns e obrigado por compartilhar ele conosco!

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