HISTÓRIAS ÍNTIMAS – MARY DEL PRIORE
Título: Histórias Íntimas
Subtítulo: Sexualidade e Erotismo na História do Brasil
Autora: Mary del Priore
Editora: Planeta
Ano da Edição: 2011
A AUTORA
Mary del Priore é uma
historiadora e professora brasileira de notório saber e reputação. Ela já escreveu
mais de 15 livros e recebeu diversos prêmios literários. Sua grande contribuição
é levar para o grande público, de maneira didática e lúdica, questões
relevantes da História do Brasil.
Mas, depois da leitura de
outros autores (principalmente, estrangeiros), eu me tornei mais crítica com
relação à obra de Mary del Priore. Por exemplo, em Castelo de Papel, Mary del Priore descreve os últimos dias da
Família Imperial Brasileira no Poder. É uma escrita fluida, porém, Mary del
Priore peca por desprezar as relações internacionais no governo brasileiro. Pois
a Família Imperial representava o governo. A autora quase considera o Brasil
uma ilha isolada do mundo e despreza todas as relações internacionais. Para
ela, as viagens imperiais eram apenas turismo e os bailes diplomáticos, apenas
festas. O que nós sabemos, deve ser muito longe da realidade.
O LIVRO
Histórias Íntimas é um livro que se propõe a tratar da História da sexualidade
brasileira. Porém, neste caso, a autora peca pelo contrário. Ele narra tudo que
aconteceu na sexualidade europeia é o mesmo que aconteceu no Brasil. Ela
despreza totalmente a sexualidade das mulheres judias na época colonial,
despreza a sexualidade indígena e despreza a sexualidade negra. Parece que Mary
del Priore está escrevendo a História da sexualidade da mulher branca de classe
média alta do Rio de Janeiro. Não dá nem para extrapolar para a mulher branca
de São Paulo, do Sul ou do Nordeste. Grande parte das coisas que ela menciona
só se referem a publicações cariocas que não tiveram circulação em outras
regiões.
Os comentários sobre
pessoas de outra etnia que não seja branca são superficiais como o abaixo:
“Uma série de palavras de origem banto e iorubá com
sentido erótico engordou nosso vocabulário: xodó, que quer dizer, em banto,
namoro amante, paixão;”
A escravidão foi um
evento brutal. As mulheres escravizadas foram arrancadas de suas famílias e
começavam a ser estupradas diariamente dentro do próprio navio que vinha para o
Brasil. Esse fenômeno afetou profundamente a sexualidade brasileira e merecia
mais do que ser mencionado por sua contribuição no nosso vocabulário pela
palavra “xodó”. Para quem quer entender um pouco mais o fenômeno da escravidão
sobre outros pontos de vista, vale a pena assistir o vídeo abaixo (Duração: 5’38’’).
O ABORTO
Mesmo assim, vale a pena
ler. É uma das poucas referências sobre o tema. O livro vale apena pela
originalidade e por ser um pontapé inicial para o entendimento de um tema
que levanta tanta polêmica ainda hoje. Dá para entender a origem da questão do aborto, como ele era tratado e o que levou a legislação que
temos hoje.
“Até o século XIX, a Igreja tinha certa tolerância em
relação ao aborto. Acreditando que a alma só passava a existir no feto
masculino após quarentas dias de concepção, e, no feminino, depois de oitenta,
o que acontecesse antes da “entrada da alma” não era considerado crime nem
pecado. Tudo se complicava, porém, se pairassem dúvidas sobre o aborto ser
resultado de uma ligação extraconjugal.”
“Diante do Estado, leis discutiam se o aborto fora
voluntário ou involuntário. Surgiram normas contra as abortadeiras, a partir de
1830. Uma delas condenava a cinco anos de trabalho forçado quem praticasse o
aborto, ainda que com o consentimento da gestante. Esta escapava impune. O
Código Penal da República, promulgado em 1890, passou a punir a mãe que
arrancasse o filho do ventre: cinco anos de reclusão com pena reduzida e a um
terço em caso de “defesa da honra”. Ficavam isentos os abortos realizados
para salvar a vida da gestante.”
Imagem retirada o PixaBay. |
“Em 1940, o novo Código Penal definia prisão de um a
três anos para gestante que abortasse, sem qualquer facilidade. Acrescia,
contudo, que, em caso de estupro ou de risco de vida, admitia-se a operação.
Eram os chamados casos “permissivos”. Apesar dos cuidados legais, poucas
mulheres foram punidas por aborto voluntário.”
“Pesquisas sobre quem abortava indicam que eram poucas
as amantes e muitas as mães de família: mulheres casadas, com vários filhos,
tentavam a todo o custo impedir o crescimento da já numerosa família.”
PIONEIRAS
O livro Histórias Íntimas me fez conhecer a
escritora Ercília Nogueira Cobra. Uma mulher visionária que estava muito à
frente da sua época e combateu duramente a prostituição infantil. Ercília
acreditava que por meio da educação feminina, esse problema (que persiste
vergonhosamente até nossos dias) poderia ser resolvido.
Outra grande mulher que
descobri recentemente, não está no livro, mas merecia, é Júlia Lopes de Almeida,
primeira mulher a ser indicada à Academia Brasileira de Letras (ABL). Vale a
pena consultar a vida dessa autora pela reportagem da Folha (clique aqui).
PORNOGRAFIA
Outro ponto que o livro
Histórias Íntimas ajuda a compreender um pouco da História da pornografia e
como ela chegou no Brasil (trechos abaixo):
“O filme pornográfico mais antigo de que se tem notícia
é O escudo de ouro ou o bom albergue, realizado na França em 1908: história de
um soldado com uma doméstica.”
“Em 1910, o alemão Ao entardecer mostra uma mulher
masturbando-se no quarto e a seguir cenas de felação e penetração anal com o
parceiro.”
No entanto, o livro foi
publicado em 2011 e, desde 2008, a indústria pornô passou por uma mudança
radical, tornando esse mercado ainda mais brutalizado e monopolistas. Para quem
quer saber mais, vale a pena assistir ao documentário Pornocracy (lançado em 2017).
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