AS BOAS MULHERES DA CHINA – XINRAN
Título: As Boas Mulheres da China
Subtítulo: Vozes Ocultas
Autora: Xinran
Editora: Companhia de Bolso
Ano da Edição: 2007
A AUTORA
As Boas Mulheres da China é um livro que fazia parte das metas de leitura de 2017. Ele
foi escrito pela jornalista chinesa Xinran. Ela viveu na China até os 39 anos,
quando emigrou para a Inglaterra. Um ano depois, ela conseguiu levar também seu
único filho para lá. Atualmente, ela é casada com um inglês. Ela é colunista do
jornal The Guardian e professora da School of Oriental and African Studies
da Universidade de Londres. Assim como os livros de Jung Chang, os livros de
Xinran também são proibidos na China.
A CHINA NA
LITERATURA
Meu primeiro contato com a China na
Literatura foi por meio do livro A Boa
Terra da Nobel norte-americana Pearl S. Buck (Relembre clicando aqui).
Os pais da escritora eram missionários e ela foi educada na China (em chinês) e
viveu praticamente toda a sua vida lá entre os trabalhadores rurais pobres.
Pearl S. Buck viveu na China durante
os últimos anos de governo da imperatriz modernizadora e revolucionária Cixi.
Meu segundo contato com a História Chinesa foi a leitura de A Imperatriz de Ferro – A Concubina que
criou a China Moderna de Jung Chang (relembre clicando aqui).
Jung Chang cita Pearl S. Buck para descrever a morte de Cixi:
“Ao saberem de sua morte, os aldeões se sentiram assustados: “Quem
cuidará de nós agora?”. E Pearl Buck concluiu: “Talvez isso seja o julgamento
supremo de um governante.”
Já As Boas Mulheres da China é meu terceiro contato. Xinran é uma
jornalista que possuía um programa de rádio de grande audiência na China entre
as décadas de 80 e 90. Ela inovou buscando fazer um programa voltado para
mulheres, no qual, as ouvintes podiam escrever ou telefonar para expor suas
dúvidas e problemas da vida. O livro é baseado nessas experiências.
O LIVRO
Pouca gente conhece, mas existe um
livro brasileiro, de 1986, no mesmo formato (experiências de uma apresentadora
num programa feminino): De Mariazinha a
Maria da Marta Suplicy. Não sou uma admiradora da autora como personagem
político, mas o livro é muito bom (talvez devido à formação da autora em
Psicologia). Para mim, ele é inclusive melhor que As Boas Mulheres da China.
Quando a gente vem com uma proposta
de ler e divulgar autoras (mais do que autores), é difícil admitir que alguns
livros escritos por mulheres são ruins, mas, de fato, às vezes, eles são. As
estórias são baseadas na vida de pessoas que viveram na China nas décadas de 60
e 70. É um tipo de literatura “olha como vida neste país é ruim”. Mas, se
formos procurar no Brasil (na nossa própria casa), encontraremos depoimentos de
mulheres igualmente chocantes.
No começo da sua carreira, a autora
recebe um pedido de ajuda de um menininho que narra que conhece uma moça que
está sexualmente escravizada e não consegue fugir. Xinran usa todo o seu
prestígio, moves céus e terras, e, finalmente consegue salvar a moça. Ao
contrário do que ela esperava, ninguém a parabeniza por isso. Diante desse comportamento,
ela começa a se perguntar:
Quanto valia, exatamente, a vida de uma mulher na China?
A escravidão é um problema não apenas
na China. Para quem quer saber sobre a escravidão sexual na “civilizada” Europa,
recomendo a leitura do livro O Ano em que trafiquei Mulheres do jornalista
espanhol Antonio Salas. Para quem quer uma perspectiva Histórica, quer saber
como foi o tráfico de jovens polonesas obrigadas a se prostituir no Brasil,
recomendo a leitura de Jovens Polacas
de Esther Largman. Um dos melhores documentos sobre escravidão moderna ao redor
do mundo é o TedEx da fotógrafa Lisa Kristine (Duração: 19’21’’).
Voltando ao livro As Boas Mulheres da China, um colega de
Xinran sugere que ela vá a uma panificadora chinesa. Aparentemente, na China,
as condições de trabalho nesses locais são subumanas. Ao retornar o colega lhe
diz:
“Mas, ainda que você tivesse sucesso em relatar como a panificadora
é mal administrada e como viola as normas de saúde, acha que isso faria as
pessoas pararem de comer pão de ló? É o mesmo com as mulheres.”
Xinran segue nas suas pesquisas
encontra uma universitária chinesa que trabalha como prostituta de luxo. A
jovem faz as seguintes perguntas à autora:
Qual é a filosofia das mulheres?
O que é a felicidade para uma mulher?
O que faz uma boa mulher?
Xinran diz que essas são as perguntas
norteadoras do seu livro. Mas, na verdade, ela não responde e não explana
amplamente sobre nenhuma delas. Ela só expõe fatos brutais e espera que a
emoção tome conta dos leitores. Em alguns pontos, ela parece machista.
Uma citação que é da garota de
programa, mas que eu achei pertinente:
“O homem quer que uma mulher
que seja esposa virtuosa, boa mãe e que possa fazer todo o trabalho doméstico
como uma empregada. Fora de casa, ela deve ser atraente e culta, e ser um
crédito para ele. Na cama, deve ser
ninfomaníaca. Além disso, o chinês também precisa que sua mulher administre as
finanças e ganhe muito dinheiro, para que ele possa frequentar os ricos e
poderosos. O chinês moderno lamenta a abolição da poligamia.”
Acho que “o chinês” poderia ser trocado por “o brasileiro” sem nenhuma perda de significado.
Em alguns pontos, ela parece inocente
e, em outras, machistas. Por exemplo, ela narra a vida da filha de um general
que enlouqueceu ao ser torturada e violentada pelas autoridades e por aldeões
de uma pequena vila (a descrição de como encontraram o corpo dela é uma das
coisas mais chocantes da minha vida). Ao fazer isso, Xinran julga que foi a
repressão sexual do regime comunista que fez os aldeões brutalizarem a moça
daquela forma. Ela praticamente insinua, que se não fosse o regime comunista,
ninguém ia ser tão cruel. O Brasil não é comunista e não sofre nenhum tipo de repressão
sexual e 30 homens estupraram uma desacordada recentemente. Isso se chama “lei
do mais forte” para mim. Qualquer Estado que deixa um grupo de pessoas
desprotegida (geralmente, mulheres, crianças, negros, pobres, doentes mentais),
permite essas pessoas sejam abusadas pelas outras. A maldade habita o ser
humano independentemente de outros fatores.
Ao analisar mulheres de sucesso nos
negócios, Xinran chega ser machista. Ela só entrevista uma mulher milionária e
tira várias conclusões negativas sobre as milionárias chinesas. Lembrando que
das 73 mulheres de negócio bilionárias
do mundo, 49 são chinesas (67.12%) (confira a lista na reportagem da Super
Interessante). A China não pode ser um país tão ruim assim para
empresárias.
“O sol dá; as mulheres amam. A experiência é a mesma. Muita gente
acredita que as chinesas bem-sucedidas só se interessam por dinheiro. Poucos se
dão conta do quanto elas sofreram para chegar onde se encontram hoje.”
Xinran bate muito na tecla de que
para uma mulher ser bem-sucedida nos negócios tem que ser mal sucedida no amor.
Para mim, isso parece um clichê machista. Não existe nenhuma relação de causa e
efeito entre os dois fatos. A questão é que é mais provável ser mal sucedida no
amor para todo mundo (homens e mulheres). Então, mulheres inteligentes se
cuidam para não serem mal sucedidas nas duas coisas ao mesmo tempo (dinheiro e
amor). Pelo menos, é assim que eu penso.
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