FORA DE SÉRIE - OUTLIERS - MALCOLM GLADWELL
Título: Fora
de série - Outliers
Subtítulo: Descubra porque
algumas pessoas têm sucesso e outras não
Autor: Malcolm
Gladwell
Edição: 1ª
Ano: 2008
Editora: Sextante
Este
é o segundo livro da meta de 2018, o que me coloca um pouco atrás do esperado,
porque ainda tenho que leituras longas, como Dom Quixote, e leituras em idiomas estrangeiros, em alemão e em inglês,
pela frente. Além do fato de que, desde 2016, também dou prioridade para a
leitura de livros escritos por autoras. Mas, pelo menos, eu comecei bem, pois, Outliers é um ótimo livro, com uma leitura
fluída e agradável. O texto é bem estruturado e não faço críticas quanto à
tradução.
O
AUTOR E O LIVRO
Malcolm
Gladwell é um escritor britânico, criado no Canadá, nascido em 1963 (54 anos). Seu
pai era britânico e sua mãe, jamaicana. Outliers
é um termo que não tem uma tradução exata em português. Ele significa aquele se
destaca amplamente dos seus pares por uma característica, tronando-se, no caso
de pessoas, um ídolo. Por exemplo, Bill Gates, Steve Jobs, Neymar, Michael
Jordan, Beatles, Machado de Assis, etc.
O
MITO DO GÊNIO
As
pessoas costumam achar que os outliers
são portadores de uma capacidade extraordinária nata, que eles não precisaram
de nada para chegar lá. O que o autor demonstra no seu livro, é que, muito pelo
contrário, essas pessoas tinham um talento (provavelmente não
muito superior à média), elas se esforçaram muito mais que a média (cerca de,
pelo menos, 20.000 horas), mas seu sucesso só foi possível porque contaram com
uma rede estruturada de apoio e benefícios (muitos deles excludentes para
outros também talentosos, portanto, injustos), além de fatores aleatórios como
a sorte (ter nascido no local e na época mais propícia para o desenvolvimento
daquela atividade).
Acontece
que, muitas vezes, ao se contar a história dos outliers, “esquece-se” de contar o que estava por trás para se
criar a estória de um “herói (e raras vezes uma heroína) sobre-humano(a)”. A
ideia em si não era novidade para mim, nem em termos intelectuais, nem em
termos de experiência pessoal. No livro As
Origens do Totalitarismo, a filósofa Hanna Arendt discorre sobre isso,
dizendo que a nossa sociedade escolhe alguns ídolos que por seus talentos “extraordinários”
merecem viver e justifica assim a morte de milhões de pessoas que não são “extraordinárias”.
Arendt usa o termo “gênio” e ela estava pensando especificamente no caso do
Holocausto. Por exemplo, Einstein não morreu em um campo de concentração por
causa de sua imagem de “gênio”, mas centenas de outros físicos que poderiam ter
criado trabalhos tão extraordinários quanto o dele morreram nesses locais,
simplesmente porque não tinham uma “aura de gênio”.
André Rebouças, um dos primeiros negros com diploma universitário no Brasil, um outlier. |
Sempre
ouvia em casa que “Machado de Assis foi
um menino negro e pobre, que apesar das dificuldades tinha vencido na vida...”,
“André Rebouças foi um dos primeiros
negros com curso superior, ele era pobre e ...”. Eu acreditei nessa balela
por anos da minha vida. Até que foi bom ter acreditado. É motivador quando
contato para crianças. Mas o mito acabou no dia que eu fui pesquisar a fundo a
vida dessas duas grandes celebridades da História do Brasil. Não diminuiu minha
admiração por eles e pelo que eles fizeram. Porém, eles foram pessoas muito
beneficiadas dentro de um contexto de opressão geral. Nenhum outro “menino preto e pobre” chegaria onde eles
chegaram por mais que se esforçasse e por mais talentoso que fosse.
Isso é um mito para fazer as pessoas se sentirem bem com suas consciências. É
interessante notar que o conceito de uma mulher que se deu bem na vida, superou
adversidades e se destacou sozinha não existia (talvez ainda não exista) nem no
plano do “mito”.
O
MITO DA INTELIGÊNCIA POR SI MESMA
Outro
mito que o livro tenta desmascarar é o mito da inteligência como algo essencial
e imprescindível. Na verdade, para se chegar a um destaque intelectual, é
preciso ter uma inteligência mínima. Mas, daí para frente, não faz mais
diferença. Eu me surpreendo com as pessoas criam e vivem mitos
sobre inteligência que fazem elas mesmas se sentirem inferiores. Suspeito que
isso tenha a ver com algum trauma infantil, principalmente mulheres são
educadas para se sentirem menos inteligentes que homens e acharem que elas não
conseguem.
Aliás,
o próprio livro reforça essa ideia machista. Ele fala de uma pesquisa com as
crianças que se mostraram superdotadas no Canadá. A pesquisa acompanhou essas crianças
durante toda vida e elas tiveram um desempenho normal a qualquer outro grupo de
crianças (algumas se deram bem na vida, muitas nem tanto, e algumas se deram
muito mal). Até aí ok. O único problema é que o autor se refere a esse grupo no
masculino, sempre “eles”, ou “esses homens”. Se uma pesquisa
identificou os 5% de crianças mais inteligentes do Canadá e elas são todas do
sexo masculino, (por favor, me poupe!), estatisticamente, essa pesquisa tem de
estar errada. É impossível que não haja nenhuma menina nesse grupo. Mulheres
superdotadas sofrem mil vezes mais discriminação e pressão social que homens
superdotados. Conheci uma menina que competia nas Olimpíadas Internacionais de
Física comigo, ela tinha índice mundial para ter sido bolsista de Harvard, hoje
ela é caixa de supermercado numa cidade de 20.000 habitantes no interior de
Minas Gerais. Esses dois pontos abordados pelo autor (o mito do gênio e o mito
da inteligência por si mesma) não foram novidades para mim, mas devem ser para
muita gente. Por isso, o livro alcançou tanto sucesso.
VOCÊ
RECEBE INFLUENCIA DA CULTURA DOS SEUS ANTEPASSADOS E SUA CULTURA HOJE VAI INFLUENCIAR
A DE SEUS DESCENDENTES
Outro
ponto relevante é a influência da cultura no desempenho das pessoas. O autor
foi muito feliz de dar um exemplo de companhia aérea e outro exemplo sobre como
estudantes universitários americanos continuavam repetindo os padrões
aprendidos por seus antepassados. Existe até um termo em português para isso,
que o autor ou os tradutores parecem não conhecer, “atavismo”. Por fim, o autor
narra a fascinante história da própria mãe dele na Jamaica e questões como
racismo e como o racismo molda uma sociedade condiciona nossas escolhas e
nossos pensamentos.
Para
mim, foi um pouco “chover no molhado”, mas é um livro cuja leitura, ainda assim,
vale a pena porque ele enriquece de exemplos a sua argumentação e expõe tudo de
uma maneira clara. Com certeza, ajuda a expor e discutir melhor essas ideais
com outras pessoas, tornando-as conscientes e criando assim, os primeiros
passos de uma sociedade menos discriminadora e excludente. Leitura recomendada!
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BOA SEMANA!
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