QUEM TEM OPÇÕES, ESCOLHE PIOR! - COMO FAZER ESCOLHAS CERTAS

Sheena Iyengar é uma psicóloga e economista canadense, autora do livro The Art of Choosing (A Arte da Escolha, numa tradução livre). Aos 13 anos, ela perdeu totalmente a visão devido a uma doença degenerativa diagnosticada aos 3 anos. Iyengar dedicou toda a sua carreira de pesquisadora a entender como as pessoas fazem escolhas.



As conclusões delas são surpreendentes: “Fazemos mais de 70 decisões simples todos os dias”. E, sim, decisões que parecem simples, mas que podem afetar nossas vidas permanentemente (para entender mais, leia O Poder do Hábito). Um executivo está envolvido, na média, com 139 tarefas por semana. Cada tarefa envolve dezenas de pequenas decisões. Cerca da metade delas são tomadas em menos de 9 minutos. Eles têm mais de uma hora para pensar qual a melhor decisão em apenas 12% dos casos. Agora, pense nas suas decisões diárias, quais foram, de fato, bem pensadas?


Além disso, a grande descoberta de Iyengar é que nós vivemos numa sociedade sobrecarregada de escolhas. Nunca antes na História da humanidade, nós tivemos esse problema. Por isso, ninguém nos ensinou como fazê-las de maneira correta. Nas próprias palavras de Iyengar: “Vivemos na era Starbucks, nos dizem que a felicidade está na escolha, mas é mentira. Quem tem opções, escolhe pior.”.
O excesso de alternativas nos confunde e nos deixa indecisos. Então preferimos não escolher, não agir ou tomar qualquer decisão. E, mesmo quando optamos por comprar e fazer algo, teremos um baixo comprometimento com nossa opção, porque iremos desconfiar dela, já que não temos certeza da nossa capacidade real de selecionar bem. Ficamos com um medo eterno de termos sido enganados ou, pior, iludidos.” (Revista Vida Simples – Edição 169).
Confira a palestra completa de Sheena Iyengar no TED abaixo (com legenda em português):


POR QUE ESCOLHI ESTE TEMA HOJE?
Este tema tem a ver com o que estou vivendo agora. Estou lendo Dom Quixote (da meta) e já me peguei pensando que gostaria de ler outro livro. Mas literatura não é o único problema das minhas decisões.


OPÇÃO 1: ESTUDAR NA ALEMANHA EM DEZEMBRO
Como já escrevi no blog antes, desejo prestar para uma bolsa de estudos de inverno na Alemanha. Para isso, preciso provar que tenho o nível intermediário de alemão (B2) até o meio do ano. Acontece que passei na escola de alemão e o dono me falou que fui muito mal na prova. Ele é super apoiador, falou que vai me passar exercícios extras semanais para eu continuar praticando. Vou precisar de mais esforço do que imaginava.
MAIS OPÇÕES QUE COMPROMETEM A OPÇÃO 1
Continuando no mesmo problema de foco nas nossas escolhas, tenho duas oportunidades abertas para a primeira semana de abril: um concurso (para o qual preciso estudar) e uma bolsa de estudos no Canadá (para a qual preciso escrever um projeto).
Imagem retirada do site PixaBay.

OPÇÃO 2: PASSAR NUM CONCURSO
Para o concurso, preciso estudar. Já comecei a estudar de fato. Mas hoje fiz um simulado da prova e fui muito mal. Além disso, tinha me planejado para passar 4 horas e meia estudando e passei só uma hora e meia. Deixo os pensamentos negativos tomarem conta da minha mente, me identifico com eles e entro num estado deprimido. Fiquei postergando e não entendo os mecanismos que estão por trás disso. Como estava “deprimida”, não me sinto tão mal por ter desperdiçado tanto tempo precioso. Claramente isso é um mecanismo de fuga das consequências da minha decisão (ter de estudar, porque escolhi me inscrever no concurso). Seria o medo do fracasso que gera esse círculo vicioso? Como faço para neutralizá-lo?


OPÇÃO 3: ESTUDAR 6 MESES NO CANADÁ
Por outro lado, para o projeto no exterior, já consegui um colaborador no Canadá, tenho minha área de foco e interesse (eficiência de transporte de carga) e algumas ferramentas que são fáceis para mim. Mas o colaborador de lá tem as ferramentas que são importantes para ele. Preciso aprender sobre o que ele tem lá o mais rapidamente possível, descobrir uma maneira de usar esse conhecimento, integrando nossos dois interesses. Eu sento na frente do computador e não consigo me focar. Não vai.
E imaginem o que acontece depois? Novamente me deixei ser tomada por pensamentos negativos, fico “deprimida” e me sinto “justificada” por postergar. Você também tem algum “mecanismo de escape”, quando precisa tomar uma decisão? Como você o enfrenta? Estou começando a colocar um cronômetro marcando 24 minutos. Nesse período, me foco completamente, depois me recompenso com algum descanso. Acho que isso se chama técnica de Pomodoro.

Imagem retirada do site PixaBay.

AS CONSEQUENCIAS DAS TRÊS OPÇÕES E SEUS MEDOS
Se eu passar no concurso, terei um emprego estável e bem pago. Mas terei, provavelmente, que trancar o doutorado por um ano (o que eu não acho muito ruim) e perderei a possibilidade de ir para o Canadá e para a Alemanha. A não ser, considerando a possibilidade que eu fique na lista de espera e só seja chamada depois que voltar do Canadá (ou da Alemanha).
Se eu passar na bolsa para o Canadá não poderei ir à Alemanha este ano, pois as bolsas são no mesmo período. Mas poderei prestar de novo para a Alemanha no ano que vem.
Existe a possibilidade que eu estude alemão do meio de abril até o fim de junho e, mesmo assim, não atinja a pontuação necessária para a bolsa na Alemanha. Nesse caso, vou ficar muito frustrada por ter fracassado nas três alternativas que se mostraram a minha frente. Preciso aprender a lidar com o medo da frustração. Os fracassos em tentativas não dizem nada sobre quem nós realmente somos, apenas que fizemos de coisas (e escolhas de maneira) inadequada para aquele momento.
Além disso, também tenho o medo da mudança. Para todas as alternativas, minha rotina pode mudar, posso ter de me mudar de cidade, interagir com pessoas estranhas, como vai ser tudo isso? Minha “casquinha” está ruim agora para mim, mas ela é tão confortável, tão conhecida, tão “segura”. E, por último, eu tenho um baita medo da felicidade. Sabe aquela sensação de que você não merece tudo o que você deseja? Às vezes bate em mim também.
REPORTAGEM DA REVISTA VIDA SIMPLES
Por causa disso, li uma reportagem da Revista Vida Simples de abril de 2016 (Edição 169), cuja capa era “Faça boas escolhas. Como transformar decisões com segurança e coragem e, assim seguir em frente para realizar seus sonhos.”. Além do livro da Sheena Iyengar, a reportagem cita mais três livros específicos sobre o tema “como tomar decisões”, são eles:
·        O Paradoxo da Escolha – Por que Mais é Menos? de Barry Schwartz;
·        Como Fazer Escolhas Certas de Elizabeth George;
·        Fazer Boas Escolhas no Momento Certo de Bertrand Georges.
Transcrevo outro parágrafo da mesma reportagem: “Acontece que vivemos num mundo saturado de milhares de alternativas (...). Com esse exagero, nos mostramos volúveis, inseguros com relação às nossas opções, exigentes e intolerantes com aquilo que escolhemos e sujeitos a reclamar de tudo o que nos foi oferecido. Além disso, em nenhum momento nos foi ensinado como selecionar com mais sabedoria e segurança, porque até recentemente esse não era um grande problema: tínhamos poucas alternativas com relação a tudo e nos satisfazíamos com muito menos.”.


Aqui cabe uma interpretação mais abrangente. Será que temos realmente tantas escolhas assim para as questões decisivas de nossa vida? Lembrei de uma outra leitura muito fundamental para mim “A Idade Decisiva – Descubra por que dos 20 aos 30 anos vai definir seu futuro e como tirar o melhor proveito dela” da psicóloga Meg Jay. Nele a autora coloca que, na verdade, não temos tantas opções de carreira e parceiros amorosos como somos levados a pensar que temos. Não é aquela coisa de você pode ser tudo que quiser na vida. Na verdade, você não pode. Muitas coisas já foram decididas por você antes de você nascer (isso está de acordo também com o livro Outliers) e as outras coisas, de fato, você decidiu quando era bem jovem e podia não ter ideia das consequências daquela escolha.


Os aplicativos de relacionamento são um ótimo exemplo de ferramenta que dão uma enorme “escolha” para os usuários. Mas, na verdade, existem pouquíssimas opções reais. Como já foi dito anteriormente, a sensação de escolha nos deixa “volúveis, inseguros com relação às nossas opções, exigentes e intolerantes com aquilo que escolhemos e sujeitos a reclamar de tudo o que nos foi oferecido”. Como você tem muitas “escolhas” no aplicativo (ou até na vida real), você provavelmente vai se sentir insatisfeito(a) seja qual for a pessoa escolhida. E a outra pessoa também. Note que ela também é “vítima” do mesmo processo e está inserida no mesmo contexto.


Algumas frases da reportagem são clichê, mas merecem ser relembradas aqui:
O mais sábio depois de ter sido feita uma escolha consciente é confiar nela e deixar rolar.”
Não se perca, procure manter o foco do que realmente importa para você.
Em outras palavras, não seja muito impulsivo, ouça com mais atenção sua voz interior e esteja mais atento ao que é mais profundo e relevante para sua vida.
Tenha um norte do que realmente importa para você e escolha de acordo com ele.
Uma das dicas da reportagem é responder a pergunta:
QUAIS SERIAM OS DIFERENTES CENÁRIOS QUE PODERIAM SURGIR APÓS A SUA DECISÃO?


Veja nitidamente por meio de imagens. Crie imagens mentais que envolvam todos os seus sentidos (em Yoga, isso se chama Sankalpa). Baseado na palestrada da Iyengar no TED e na minha experiência pessoal, ouso acrescentar veja também como seriam os piores momentos para as consequências de cada uma das alternativas. Somos todos, por mais racionais que achamos que somos, um pouco Dom Quixotes. Sonhamos demais e enxergamos pouco a realidade de fato com suas alternativas.
Outro problema apontado pela reportagem é que: “Não nos colocamos como somos diante delas (das nossas opções) e temos vergonha de considerar nossas características pessoais nas decisões.” Auto-aceitação aqui também é fundamental. “Enfim, escolhas podem não ser bem-sucedidas quando idealizamos quem somos e também quando consideramos demais o que os outros acham.”. “Para isso, é preciso nos conhecermos mais, saber ouvir e reconhecer nossa voz interior, sem julgar. Mesmo que depois todos riam da nossa cara.”
Vou tentar dar um exemplo de forma sucinta. Meus pais (ambos) se casaram pela primeira vez aos 36 anos e eu nasci quando minha mãe tinha 37. Os dois enfrentam muitos problemas de saúde e minha mãe foi quem enfrentou uma dupla jornada em casa e fora dela para nos sustentar. Passamos por muitas dificuldades. Tenho um perfil assertivo e tive que lutar muito para usufruir dos benefícios materiais que tenho hoje. Pode ser interpretado como machismo/elitismo/racismo da minha parte, mas sempre procurei um parceiro amoroso igual a mim, que trabalhe muito, seja disciplinado, tenha ambição e foco para construirmos objetivos comuns. Ou seja, que eu me orgulhe do que ele é e do que ele faz em todos os aspectos da vida (profissional e pessoal). Provavelmente isso é um desejo meu de “compensar” os problemas que tive na infância.  Para mim, não existe esse negócio de tampa da panela. É panela com panela e tampa com tampa, cada categoria guardada na sua respectiva prateleira. Muita gente me julga por causa disso, mas não me importo. Sou assim e não impeço quem se incomoda de ser diferente de mim.
Muitas pessoas não têm coragem de admitir esse tipo de coisa nem para si mesmo, porque pode ser moralmente “reprovável” e, por causa disso, tomam decisões erradas, que depois elas não dão conta de suportar. Veja nitidamente as consequências das suas escolhas e veja se elas são suportáveis para você. Ninguém vai suportar no seu lugar.
E se você se enganou? Com essa questão, surgem outras inquietações: a dúvida de que nada será como antes, de que a dificuldade durará para sempre e de que existe uma só saída possível, a fuga.”
Devemos então aceitar não viver segundo o que vemos e sentimos, mas segundo o que cremos e com o que nos comprometemos anteriormente.” (Bertrand Georges)

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BOA SEMANA!

BOAS LEITURAS!

Comentários

  1. Uau, que texto fantástico! Realmente, a indecisão virou a epidemia deste século! E parece cada vez mais difícil sair desse ciclo! Eu, por exemplo, fazendo 30 anos, por muitos momentos me vejo sem a menor ideia do que eu quero pra minha vida (o que realmente quero, não o que é esperado pra mim pela família ou sociedade)... de verdade, não sei o que quero, em relação a nada! Até mesmo falar uma língua, russo era um sonho antigo, quando fui me matricular, com tantas opções já bateu a dúvida (mas eu também gosto de francês, seria mais útil, meu inglês não é tão bom ainda, blá blá), por tantas opções, quase desisti de novo e ia sair mais uma vez sem me matricular na escola e sem aprender nada... aquela pergunta "Como você se imagina daqui a ___ anos?" Que era natural para nossos pais e avós, para mim dá arrepios! Mas como sair dessa situação? Quero ler os livros indicados!!! Hehehe

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  2. Essa questão do excesso de opções realmente é uma crise para as gerações mais recentes, nas quais me incluo rsrs

    Para lidar com isso, recentemente criei uma estratégia de escolha que apelidei de "isso durará a longo prazo?". Sempre que me vejo diante de uma opção, tenho feito esta questão e me imagino fazendo a determinada coisa daqui uns 5 ou 10 anos (só um rascunho, nada de planos bem delimitados), se fizer sentido, vou em frente, se não, vejo que apenas estaria gastando um tempo que eu deveria estar sendo investido para os projetos duradouros.

    Aplicando isso ao seu caso profissional - estarei desconsiderando a SUA subjetividade/experiências/desejos aqui! - a melhor opção seria o concurso, que é algo duradouro, bem remunerado, e que te daria liberdade para visitar o Canadá e a Alemanha em anos futuros. Além de permitir que você estude o que tiver mais interesse, sem se ater às exigências de um projeto de pesquisa alheio. Fora isso, o fato dessas experiências no exterior serem temporárias acabam atrasando os "projetos de longo prazo".

    Isso mudaria se a meta fosse morar definitivamente em outro país. Aí já inverte tudo, o concurso seria um atraso, e os projetos seriam uma porta de entrada para outras oportunidades no país desejado.

    Parece bobo, mas depois que adotei isso consegui descartar com mais facilidade muitas opções desnecessárias.

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