A VIDA É O QUE É. ÀS VEZES, ELA PODE SER LOUCA.
10 de junho de 2018. Semana do Dia dos
Namorados. Talvez esse seja o post mais difícil da minha vida. Que exagero! Mas
é um tema bem difícil para mim e parece que não estou só. Uma vez pedi
sugestões sobre como aumentar as leituras do blog para um amigo e ele respondeu
direto: “Escreva sobre amor! Todo mundo tem problemas com amor.”.
O post sobre o livro Psicologia Feminina: A Necessidade Neurótica de Amor da psicanalista
Karen Horney até hoje é o mais lido do blog, embora tenha sido postado em
fevereiro de 2015 (relembre aqui).
Além da doutora Horney, também já teve post sobre o livro Amor Líquido do filósofo Zygmunt Bauman (relembre aqui).
O livro também traz alguns insights muito interessantes sobre o amor na nossa
sociedade contemporânea. Para os mais românticos, também tem um post
interessante sobre o amor de Machado de Assis e sua esposa no blog LiteraturaBrasileira.
Dessa vez, eu tinha me preparado para
fazer aquele post especial para o dia dos namorados. Há duas semanas, li o
livro Não existe amor perfeito do
filósofo francês Francis Wolff, que já foi professor da Universidade de São
Paulo (USP). Achei que eu ia chegar aqui e fazer um super post para vocês,
porque, afinal, o livro merece. Num esforço de definir o amor romântico entre
dois seres humanos, o autor ensina como funcionam as técnicas para criar uma
definição filosoficamente válida. E ensina de uma maneira simples para qualquer
leitor entender. Por fim, ele define o amor como um triângulo, em cada ponta,
tem-se “paixão”, “amizade” e “desejo”. Um amor completo teria os três elementos
em igual proporção, logo, estaria equilibrado no centro do triângulo. Mas a
maioria dos casos de amor que conhecemos têm dois desses fatores mais
preponderantes. O livro inteiro pode ser lido em menos de uma hora. Para quem
se interessar, vale a pena!
No meio do caminho, encontrei outro
livro extraordinário que tem como pano de fundo um romance real. A obra se
chama Um mapa todo seu da autora
imortal da Academia Brasileira de Letras Ana Maria Machado. O livro conta a
história do romance entre Zizinha e Quincas, entre o Brasil e a Europa, no
período de 1873 e 1887. A autora intercala duas cartas reais trocadas entre os
amantes no período. O título vem de uma das cartas, em que Zizinha escreve "eu não tenho um mapa". Zizinha era Eufrásia
Teixeira Leite, herdeira de uma grande fortuna na cidade de Vassouras,
interior do Rio de Janeiro. Eufrásia e sua irmã, assim que se viram órfãs,
mudaram para Paris (para se livrar da influência da família) e passaram a
controlar os negócios de lá. Eufrásia foi a primeira mulher a investir na Bolsa
de Paris e de Londres. Ao morrer, em 1930, ela deixou uma fortuna maior que o
PIB do Brasil toda para obras de caridade no Rio de Janeiro. A casa de sua
família hoje é um museu na cidade de Vassoura, chama-se Casa de Hera.
Normalmente, o museu não abre as terças, mas este Dia dos Namorados eles vão
abrir para celebrar a data com uma comemoração especial. Por quê?
Porque Quincas era o político, escritor e
diplomata Joaquim Nabuco. Ele era a favor da abolição, causa que a família de
Eufrásia abominava. Eles queriam se casar, mas, na versão de Ana Maria Machado,
o grande problema foi a pressão familiar e o machismo da época. Apesar de ter
sido pedida em casamento por três vezes, Eufrásia hesitava porque sabia que não
poderia controlar seus negócios e nem morar no Brasil com a cultura e a
sociedade de sua época. Além disso, tudo indica que eles chegaram a morar
juntos no Rio de Janeiro (escondidos de todos). É uma história real, um pouco
trágica, um pouco linda, culminando com os bastidores que levaram a assinatura
da Lei Áurea. Da quase para imaginar que se o romance entre Zizinha e Quincas
tivesse dado certo, o Brasil nunca teria assinado a Leia Áurea... Leia o livro e
tire suas conclusões.
Não gosto desse estereotipo da mulher bem-sucedida
nos negócios, mas infeliz no amor, porque acredito que isso alimenta o machismo
até hoje. Isso foi em outra época. O grande problema é que amores felizes de
mulheres em destaque por suas habilidades, quase nunca vendem. Como, por
exemplo, Sinhá Moreira
(1907-1963), que fundou a primeira escola de eletrônica da América Latina, e
fez da região de Itajaí, o Vale da Eletrônica brasileiro. Se formos pensar em
casos mais recentes, temos dona Luiza
Helena Trajano, dona da Magazine Luiza. O problema é ainda se fala pouco de
mulheres bem-sucedidas nos negócios e, quando se fala, é para dar ênfase no
fracasso amoroso. Mulheres como Sinhá Moreira e Dona Luiza Trajano, super
bem-sucedidas em ambos os aspectos de suas vidas, não têm apelo comercial. Mas,
vamos que vamos, falem bem ou falem mal (no amor), mas falem de mulheres nos
negócios!
Vou terminar esse post com um depoimento mais
pessoal, na medida do que posso. Frequentemente estou pessimista sobre o futuro
e o que esperar da vida e dos homens. Mas a vida, às vezes, vem e me
surpreende. Conheci uma das pessoas mais interessantes dos últimos quatro anos,
que causou um impacto positivo transformador na minha vida, embora sejamos apenas amigos.
Para que eu pudesse encontrar essa pessoa,
ocorreram uma sucessão inacreditável de eventos aleatórios concatenados. Por
exemplo, eu salvei a vida de um menino em 2007; em 2016, recomendei um curso de
mergulho entusiasticamente para um grupo de amigos; depois eu vi um lagarto
teiú de quase um metro andando na rua em 2017, consegui tirar uma foto do
bicho; e meu ex namorado (o meu relacionamento mais longo com quem eu mais amei
até hoje) se casou no mesmo ano. Pode parecer absurdo agora, mas, se qualquer
um desses quatro eventos não tivesse ocorrido, eu jamais teria conhecido essa
pessoa transformadora e o meu destino não teria mudado. A vida é o que é. Às vezes, ela pode ser louca.
Como não sabemos quais as consequências
das nossas ações, o que está funcionando para mim e recomendo para todas as
pessoas, é dedicar cada uma das suas ações ao Deus do seu coração, ou a uma
entidade de sua completa confiança e devoção, como Nossa Senhora, Krishna,
Buda. Simplesmente diga ou repita mentalmente “Dedico essa ação e suas consequências a.... (entidade escolhida).”.
Se possível, faça isso para todas as ações do seu dia, mesmo as mais
insignificantes e aquelas que você tem vergonha de dedicar, como uma crise de
choro, por exemplo. Lembrou, dedique.
Falei que o tema era difícil para
mim, acabei dando conselhos sobre a vida. Isso é sinal que está na hora de ir. Muito obrigada a você que acompanha o nosso trabalho. Por
favor, fique à vontade para deixar seus comentários. Também é possível
acompanhar as novidades pela nossa página no Facebook.
BOA SEMANA!
Achei fantástica a história do livro!!! Me deu ainda mais vontade de lê-lo e de conhecer a casa da D. Eufrásia. Amo romances históricos!!!! Nossa, engraçado como a gente não aprende esse panorama histórico na escola, né... de Joaquim Nabuco mesmo, se não se pesquisar a fundo, só conhecemos o nome e olhe lá... 30 anos de luta, e só sendo perseguido! Isso diz muito sobre nossa história, a Republica sendo formada mais conservadora que o próprio Império. Como teria sido se Joaquim Nabuco tivesse tido mais apoio para fazer o que devia?
ResponderExcluirE a Eufrásia, que mulher!!!!! ❤
Eu não sabia da importância dela também! Imagino como deve ter sido o romance dos dois!!!!
Muito obrigada pelo comentário entusiasmado. Isso dá muita energia para seguir em frente.
ExcluirFiquei muito emocionada com a sua história! Têm pessoas que passam na nossa vida para nos dar um tranco e mudar de direção, e nos transformar para sempre, não importa como e por quanto tempo será essa interação! Me arrepiei!!!
ResponderExcluirGratidão, Roberta.
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