HOMENAGEM AO DIA DOS PAIS

Domigo, 12 de agosto de 2018. Dia dos Pais. Em 2000, eu tinha 14 anos, estava na oitava série num colégio municipal. Naquele ano, em específico, houve um problema de excesso de alunos. Na nossa sala, havia 60 estudantes matriculados. Lembro que chegou o Dia dos Pais. Nessa idade, nós já não comemorávamos nenhuma data na escola. Mesmo assim, comecei a refletir sobre o dia e percebi que eu era um dos únicos estudantes que ainda tinha pai e morava com ele. Tive muitos amigos e amigas órfãos de pai. A maioria os perdeu de forma violenta (assassinatos ou acidentes de trânsito), mas alguns foram por doença também.
Uma grande amiga minha não tem o nome do pai na certidão de nascimento. Segundo notícias amplamente divulgadas na mídia, esse é o caso de mais de 5 milhões de brasileiros. Dos jogadores escalados para a seleção brasileira de futebol, parece que sete não têm o nome do pai. Outro amigo, depois de adulto, lutou muitos anos por um exame de DNA para colocar o nome do pai na certidão. Sobre a luta de milhares de mulheres para registrarem seus filhos no Brasil, existe o livro Em Nome da Mãe de Ana Liési Thurler. Já falamos sobre ele aqui no blog.



À boca pequena, também já ouvi contar a estória de um grande fazendeiro casado que teve um filho com uma moça do campo. Depois de adulto, o filho procurou a Justiça. Os outros herdeiros do fazendeiro tentaram fazer um acordo com ele para não dividir a herança. Como ele não aceitou, pois queria receber a herança de maneira justa, os filhos do fazendeiro falsificaram um exame de DNA e deixaram o meio irmão sem nada. Uma estória muito repetida na América Latina. Um livro ficcional que descreve bem esse tipo de arranjo familiar é Casa dos Espíritos, da escritora chilena Isabel Allende. Também já falamos sobre ele aqui no blog.



Além disso, tive amigos adotados. Um grande amigo meu foi adotado por uma mulher divorciada, outro por uma solteira, e alguns por um casal. Na minha época, não existia oficialmente a possibilidade de casais homossexuais adotarem crianças. Mas tive duas amigas que foram, de fato, criadas por homossexuais masculinos. Nos dois casos, eles eram tios biológicos e a Justiça preferiu deixar com tios do que no orfanato, o que é uma decisão acertada na minha opinião. Na época, a gente não tinha nenhuma referência sobre o assunto. Hoje já temos livros como Coragem de ser: Relatos de homens, pais e homossexuais de Vera Moris e Fábio Paranhos. Mas eu ainda não li.



Uma outra amiga e a irmã foram criadas exclusivamente pelo pai. A mãe as abandonou ainda pequenas e o pai cuidou delas sozinho. Fato raro. Chamava a nossa atenção. Com a internet e as mudanças da sociedade, essas situações foram se naturalizado. A imagem do pai foi se transformando. Hoje existem sites e fóruns de debate, como Paizinho, vírgula e a página do Facebook, Paternando. Dentre as milhares de fontes possíveis que a gente acha na internet, um dos vídeos que eu mais amo é o Marcos Piangers, Ser Pai é Maravilhoso. Confira abaixo.



Segundo o relatório Situação da Paternidade no Brasil, divulgado em 2016, o pai é importante para o desenvolvimento intelectual e emocional das crianças durante todo o crescimento delas. Foi uma evolução modesta, mas, para pessoas da minha geração, já foi um grande passo termos saltado da licença paternidade de 5 dias para a de 20. Além da guarda compartilhada, que estabelece que o convívio com o pai e com a mãe deve ser feito de forma equilibrada.
Sobram muitos casos de amigos que eram filhos de casais separados ou divorciados. Para uma geração antes da minha, essas crianças sofriam discriminação e eram impedidas de se matricular em muitas escolas prestigiadas. Sim, porque os pais delas eram separados, os professores e diretores de escola acreditavam que essas crianças teriam “problemas”. Eu lembro desses “debates” nas rodas mais conservadoras da sociedade. Ainda bem que a sociedade muda, não é mesmo? Imagino que, entre as causas de separação, deve ter havido muitos casos de violência doméstica. Depois de adultos, algumas pessoas já me contaram sobre isso. Uma amiga que passou por isso, recomenda a leitura de Hibisco Roxo da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.



Parece também que são muito mais frequentes do que se imaginam os casos de abuso sexual. Numa visão religiosa e espiritualista, tenho que dizer que deve haver cura para isso. O agressor, antes de tudo, também é um ser sofredor e doente, que deveria ser tratado. Não sei como, mas deve haver cura. Não é uma abordagem que eu concordo, mas é a única que eu conheço que tenta propor uma solução para isso, é terapia da constelação familiar. O livro texto é A Simetria Oculta do Amor de Bert Hellinger. Como eu disse antes, eu não gosto, mas é o único que eu conheço até agora.



Do ponto de vista dos filhos e filhas, independentemente de qual seja o seu caso, recomendo a leitura de Buscando o Amor dos Pais de Kamino Kusumoto. Frequentei a filosofia de vida da Seicho-No-Ie durante 11 anos. Lá eles pregam muito a importância da gratidão, principalmente, da gratidão aos pais. Esse é um tema muito espinhoso para mim. Pra quem quer saber mais, vale a pena conferir a palestra do Heitor Miyazaki (em portguês) na íntegra.





Meus pais eram não convencionais para a época deles, sofreram muita discriminação e, como eu não partilho dos valores e visão de mundo deles, sempre me senti muito “socialmente punida” por ser filha deles. Eu me identifico com os relatos (que eu só li na sinopse) da escritora norte-americana Jeanette Walls no livro O Castelo de Vidro. Vou colocar esse livro na minha meta de leitura para o ano que vem.




Hoje eu quero agradecer ao meu pai por ter me dado a vida. Muito obrigada, papai. Agradeço por eu nunca ter assistido nenhum episódio de violência doméstica. Muito obrigada, papai. Agradecer por cuidar da minha mãe até hoje com profundo amor. Muito obrigada, papai. Agradeço por ter sempre priorizado a minha educação. Eu tinha uma amiga que não tinha pai. Uma vez nós tivemos que estudar as rochas e solos da região para uma lição de geografia. Meu pai levou a gente de carro e fomos atrás de coletar as amostras de solo. Quando a gente voltou, a minha amiga disse para mãe dela: “Tem razão da Isotilia tirar notas tão altas, ela tem até um pai que ajuda ela fazer as lições”, com os olhos cheio de brilho. Muito obrigada, papai. Agradeço por ter me incentivado a aprender vários idiomas. Meu pai não tinha dinheiro, mas o pouco que ele tinha, ele me ajudava a pagar um curso de inglês ou um curso de francês. Muito obrigada, papai. Agradeço pelo exemplo de honestidade. Muito obrigada, papai.

Meu pai.
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BOA SEMANA!
BOAS LEITURAS!






Comentários

  1. Muita admiração por seu pai e sua mãe terem criado uma mulher maravilhosa como você! Saudades enormes dos dois!!!! 😍

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