QUATRO AUTORAS DA PERÍODO COLONIAL
O primeiro livro escrito por uma mulher negra
no Brasil talvez seja Sagrada Teologia do Divino das Almas Peregrinas, um
tratado teológico. Ele foi escrito por uma ex-escrava chamada Rosa Maria
Egipcíaca da Vera Cruz (1719 – 1778), mais conhecida como Rosa Egipcíaca.
O livro de Rosa tinha mais mais de 200 páginas e tratava das suas visões e dos seus
pensamentos. Ele foi comparado à obra de Santa Teresa d’Ávila (doutora da
Igreja). Porém, o livro foi parcialmente queimado pelo confessor de Rosa,
devido ao processo movido pela Inquisição, que a acusava de heresia e práticas
de feitiçaria.
É preciso lembrar que a própria Santa
Teresa d’Ávila também foi perseguida pela Inquisição. Na América Latina, temos também
o caso da freira mexicana Juana Inés de la Cruz. A Netflix fez uma séria sobre
a vida dessa religiosa (recomendo!). O médium espírita Divaldo Pereira Franco
afirma que as duas religiosas são reencarnações da mesma pessoa. Não acredito,
mas, enfim...
Alguns livros de Juana Inés de la Cruz
(segundo a série da NetFlix) só sobreviveram porque a madre superiora do
convento pediu as irmãs que copiassem secretamente os textos na noite anterior
à queima da Inquisição. As freiras viraram a noite copiando. O que deu tempo de
ser copiado, sobreviveu. O resto, foi queimado.
Até o momento, não existe nenhuma obra de
Juana Inés de la Cruz traduzida para o português. Mas já fiquei feliz porque
relançaram a biografia dela, escrita pelo autor mexicano, ganhador do prêmio
Nobel, Octavio Paz. A biografia saiu sob o título Sor Juana Inés de la Cruz ou As Armadilhas da Fé,
lançada em 2017 pela Ubu Editora.
Procurei pela obra de Rosa Egipcíaca no
Google e no site do Domínio Público, mas não encontrei. Também existem
biografias sobre Rosa Egipcíaca. No caso, duas. A mais completa se chama Rosa Egipcíaca: uma santa africana
no Brasil, tem 750 páginas e foi escrita pelo historiador e
professor universitário Luiz Mott. Este é um livro histórico. Aborda uma
pesquisa completa sobre a vida de Rosa, consultando fontes primárias. Encontrei
três exemplares à venda em um site de livros usados. Também existe um livro
ficcional chamado Rosa Egipcíaca da Vera
Cruz: a incrível trajetória de uma princesa negra entre a prostituição e a
santidade da
escritora Heloísa Maranhão. Achei bem mais exemplares no mesmo site de livros
usados.
Não havia escolas para mulheres durante o
período colonial no Brasil. Havia, no entanto, algumas possibilidades de
educação nos conventos e recolhimentos religiosos – a maioria deles
especialmente criados para as mulheres ricas – onde eram obrigadas a fazer os
votos religiosos (assim como Juana Inés de la Cruz foi). Aí aprendiam música,
dança, prendas domésticas e a ler e escrever.
Existia um número bem menor de
recolhimentos para mulheres pardas e indígenas (livres). Funcionavam como uma
espécie de pensionato, onde recebiam rudimentos de catequese e de instrução.
Rosa Egipcíaca fundou o Recolhimento do Parto, no Rio de Janeiro, durante a
metade do século XVIII (por volta de 1750). Esse recolhimento acolhia “donzelas
e madalenas arrependidas” (isto é, ex prostitutas), na sua maioria, negras e
mulatas.
A educação de escravizada era quase
impensável. Luiz Mott recuperou uma das poucas exceções. Uma carta da
escravizada Esperança Garcia. Na carta, datada de 6 de
setembro de 1770, Esperança pedia ao governador do Piauí que fizesse com que o
administrador da fazenda a enviasse para a fazenda de origem, devido aos maus
tratos que vinha recebendo e por vivier, naquele momento, apartada de seu
marido e ter filhos por batizar.
Outra excessão notável foi a poetisa Angela do Amaral Rangel (1725 – data de falecimento desconhecida), cega de nascimento,
por isso, era chamada de a Ceguinha.
É considera a primeira brasileira a ter seus trabalhos impressos. O governador
do Rio adorava a poesia dela e mandou imprimir. Mas quando a Corte portuguesa
ficou sabendo que estavam imprimindo livros no Brasil, repreendeu o governador
e mandou fechar a gráfica. Angela era a única mulher a participar da Academia
dos Seletos, os membros dessa academia foram convidados a serem coautores do
livro Júbilos da América, impresso em
Portugal, em 1754. Dessa forma, alguns versos de Angela Rangel (que estavam
naquele livro) chegaram até nós. Também procurei por esse livro no site Domínio
Público, mas não encontrei.
Outro nome a ser lembrado é o de Rita Joana de Souza (1696 -1718), pernambucana de Olinda. Essa não tem verbete na
Wikipédia, mas a informações que estou fornecendo vieram do livro Submissão e Resistência – A Mulher na Luta
Contra a Escravidão da historiadora Maria Lucia de Barros Mott. Segundo
Maria Mott, Rita Joana de Souza deixou inéditos dois trabalhos – um de História
e outro de filosofia – escritos quando tinha menos de 22 anos.
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