PARA COXINHAS: DUAS RECOMENDAÇÕES DE PRESENTE NESTE NATAL!
Uma amiga está participando da brincadeira
de “amigo invisível” no grupo da família dela. Parece que ela tirou o nome de
um parente, que defende a “direita brasileira”, mais conservador e que, ao
mesmo tempo, diz que gosta de ler e mostrar conhecimento sobre diversos
assuntos.
Minha amiga me pediu sugestões livro para
presentear o “amigo invisível” de direita. A intenção é levar a reflexão, sem
ser crítico ou agressivo demais. Então, não poderia ser nenhum livro assumida
ou exageradamente de esquerda. Deveria ser algo que ao mesmo tempo que agrada ao
“conservador” também leva a reflexão e a ser crítico com relação a sociedade
atual.
Acabei chegando em duas recomendações da
literatura alemã contemporânea.
#1 Título: Hammerstein ou a Obstinação
Imagem da capa. |
Subtítulo: Uma História Alemã
Autor: Hans Magnus Enzensberger
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2009
POR QUE ESCOLHI ESTE LIVRO?
É a biografia ficcional do general alemão
Kurt von Hammerstein-Equord. O general existiu de fato e foi um dos maiores
opositores a Hitler e ao nazismo. O general Hammerstein é considerado um dos
maiores gênios militares de todos os tempos. Ele era admirado até pelos seus
opositores na guerra. Um general inglês tinha frases de Hammerstein penduradas
na parede do escritório. Apesar de sua genialidade, Hammerstein odiava a carreira
militar, só ingressou nela porque sua família era nobre e o obrigou a isso. No
auge do poder de Hitler, Hammerstein se recusou a obedecê-lo porque “não
escutava ordem de um cabo” (alusão a patente militar do Führer).
Hitler mandou matar Hammerstein, mas, por
razões que são desconhecidas até hoje, Hammerstein sobreviveu. Porém, seu
melhor amigo morreu no atentado. Hammerstein travou uma guerra silenciosa
contra Hitler durante toda Segunda Guerra. No seu leito de morte, devido a um
câncer, o general declarou aos amigos que tinha vergonha de ter servido ao
Exército alemão, por causa das atrocidades. Além disso, Hammerstein era um pai
que proporcionou uma educação muito moderna para a época. Todos os seus filhos
e filhas fizeram oposição a Hitler. Todas as filhas tinham carteira de moto e
carro. Algumas até namoraram judeus e/ou foram para União Soviética. Os filhos
foram perseguidos pela polícia secreta alemã.
O livro é uma biografia ficcional. Portanto,
não tem o rigor de um texto acadêmico. O autor coloca alguns personagens -
inclusive a amante do general Hammerstein – contando a história depois de
mortos. A partir do “além”, eles recontam o que viveram a um entrevistador
imaginário.
O autor tem 89 anos e diversos livros
traduzidos para o português. Ele já ganhou os prêmios literários Princesa das
Astúrias (espanhol) e Georg Büchner (o mais importante prêmio da Literatura
Alemã). Tenho um “sonho” de acertar uma indicação do Nobel... Com certeza, o
nome de Hans Magnus Enzensberger é uma das minhas apostas.
Os “coxinhas” vão gostar, porque é a vida
de um militar alemão. Ao mesmo tempo, o livro leva a reflexão de que os
militares não precisam sempre concordar com a opressão (aliás, a genialidade
está em justamente não concordar!) e de que a educação dos filhos (e filhas) pode ser
aberta e livre.
Para completar, o livro está com um preço
excelente no site Submarino.com (confira aqui).
Autora: Herta Müller (Prêmio Nobel de
2009)
Editora: Globo Livros
Ano: 2010
POR QUE ESCOLHI ESTE LIVRO?
Ao contrário do que o título pode sugerir,
o livro não trata de “depressão”, a doença psicológica. O livro é uma coletânea
de contos. Depressões é o título do maior conto dessa coletânea e pode também
ser entendido como depressão geográfica ou econômica.
É a obra de estreia de Herta Müller. Foi
escrita em 1982 (isto é, quando o comunismo ainda existia oficialmente, antes
da Queda do Muro de Berlim em 1989). Todas as estórias são ambientadas na zona
rural da Romênia, terra natal da autora, que vivia sob uma ditadura comunista.
Esse processo ditatorial foi liderado pelo casal Ceausescu (não tenho a menor
ideia como se pronuncia isso!).
A crítica brasileira compara o estilo de
Herta Müller ao de Graciliano Ramos. A descrição dos personagens é “seca” e
transmite uma “brutalidade”. Porém, Müller tem mais lirismo e sua narrativa é
centrada, muitas vezes, na perspectiva das personagens femininas. No caso do
conto Depressões, é uma menininha contando a vida de uma pequena aldeia rural
sob a ditadura.
Os “coxinhas” vão gostar porque é uma
crítica a uma ditadura “comunista”. Embora não exista nenhuma possibilidade
minimamente real de que nenhum lugar do mundo adote o comunismo como método de
governo, o livro traz reflexões para os dias atuais.
Nas palavras do escritor Ricardo Lísias...
“A ditadura e a opressão de Estado
servem-lhe apenas como pretexto para discutir a situação do ser humano diante
da impossibilidade de ser livre, refletir criticamente sobre a própria vida,
decidir sozinho seus rumos e ver seus direitos básicos garantidos.”
“Podemos começar com o exemplo doméstico:
a ditadura no Brasil acabou há quase trinta anos. Ainda assim por aqui a tortura
é corriqueira, o que logo demonstra que vivemos numa ilusão de Estado de
direito.”
“Sua população [a romena e a brasileira,
esta segunda é uma interpretação do blog] mais pobre agora imigra para os
países ricos para servir de mão de obra barata. Do mesmo jeito que sob os
comunistas, seus direitos não eram respeitados.”
“Vivemos, ainda, em uma sociedade bastante
vigiada, do mesmo jeito que nas ditaduras.”
“Não é segredo que as administradoras de
cartão de crédito, como as antigas polícias políticas, sabem tudo sobre nós.”
“Por fim, o atual desinteresse por
política [...] é típico de situações em que a opressão dá as cartas.”
Por favor, me desculpem pelo atraso na
nossa postagem semanal.
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acompanha o nosso trabalho. Por favor, fique à vontade para deixar seus
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