O SERVIÇO SECRETO - NO BRASIL E NA ALEMANHA
Domingo chuvoso aqui em Berlim. Já passou
um pouco das 14h00, ainda não almocei. Os meus planos para hoje de manhã foram
interrompidos pela chuva.
Essa semana visitei muitos museus depois
das aulas de alemão. No centro de Berlim, fica a famosa Ilha dos Museus, com
cinco museus. Como as aulas ocupam mais da metade do dia, só consigo ir, no
máximo, em um museu por dia. Na ilha, visitei o Museu Pérgamo e o Museu Novo. E
foi fantástico! No Pérgamo, estão os portões de Nabucodonosor II da Babilônia e
a maior peça maciça dentro de um museu, o porão de um mercado grego com mais de
17 metros. Impressionante! Além disso, há o Museu de Arte Islâmica no andar de
cima, com a maior coleção do mundo de tapetes árabes. No Museu Novo, há uma
coleção enorme de peças egípcias, incluindo o famoso busto de Nefertiti, a
belíssima rainha egípcia. Também assisti um concerto de jazz na sala de concertos da Orquestra Filarmônica de Berlim, conhecida como o prédio com a melhor acústica do mundo.
MUSEU
DA ESPIONAGEM
BERLIM: A CAPITAL DOS ESPIÕES
Também fui no Museu da Espionagem em Berlim. A cidade ficou com essa fama de capital dos espiões, porque, durante a Guerra Fria, ela foi dividida em duas (capitalista e comunista) e... como dizia a minha avó "o pau quebrava" dos dois lados. Era um querendo interceptar inforamações sigilosas do outro, dos dois lados. Esse
museu é bem moderno, cheio de jogos de decifrar códigos, jogos com laser, igual
aos filmes de espionagem. Ideal para crianças. Embora não tenha sido museu que
eu mais gostei, vou falar mais sobre ele, porque acho que ele transmite umas
informações importantes.
Grafite mostrando "o corte na carne", a divisão entre Berlim Ocidental e Oriental, em frente aos restos de onde ficava o muro que dividia a cidade. |
AS
ESPIÃS QUE FIZERAM HISTÓRIA
Na parte histórica, aprendi que o primeiro
registro de espionagem no mundo aconteceu no Egito antigo, há mais de 1.400
anos antes de Cristo. Um faraó mandava espiões para países vizinhos. Em 1756
(depois de Cristo), houve uma travesti (Charles D’Eon) espiã francesa. O rei da
França mandou Charles D’Eon como agente secreto para a Rússia, com a missão de
impedir um acordo entre a Rússia e a Inglaterra. Charles D’Eon se dizia uma
mulher aprisionada no corpo de um homem e só se vestia como mulher na corte.
Charles D’Eon ganhou a confiança da czarina da Rússia e teve sucesso na sua
missão.
Charles D'Eon, travesti e espiã francesa na corte russa. |
Durante a Guerra de Secessão nos EUA, houve
várias mulheres espiãs dos dois lados. A mais bem-sucedida foi uma mulher do
Sul chamada Rose O’Neal Greenhow. Além disso, durante a Primeira Guerra, houve
a famosa Mata Hari, que virou lenda, como uma mulher irresistível e fatal.
Fizeram muitos filmes e produções culturais sobre ela (assim como Cleópatra), o
que deturpa muito a realidade dos fatos.
Josephine Baker, espiã norte-americana durante a Segunda Guerra. |
Durante a Segunda Guerra, a espiã afro
americana Josephine Baker trabalhou para os EUA e teve muito êxito. Ela foi
condecorada com honras militares na sua morte (já idosa, devido a um acidente
vascular cerebral). Se a espionagem já tem poucas espiãs mulheres, os agentes
duplos femininos são mais raros ainda. No museu conheci a história da agente
dupla Gabriel Gast. Ela era alemã, infiltrada dentro do serviço secreto
soviético. Ela passava secretamente as informações soviéticas para o governo
alemão ocidental. E o governo soviético nunca desconfiou de nada, porque ela
chegou a ser chefe do serviço secreto deles. Tirei o chapéu para Dr.ª Gabriele
Gast.
COMO
FUNCIONA O SERVIÇO SECRETO NA ALEMANHA
Atualmente o serviço secreto alemão (Bundesnachrichten Dienst) tem duas bases
de operação, uma em Berlim e outra em Colônia, com cerca de 4.000 funcionários
ao todo. Seu principal foco é combater o extremismo (político, religioso, etc.).
Abaixo está a tradução do texto na parede
do museu sobre o atual serviço secreto alemão:
“Os serviços de inteligência têm a
intenção de proteger os sistemas democráticos. Os métodos clandestinos que eles
usam, no entanto, colocam esses serviços em risco de quebrar a lei, subvertendo
o princípio pelo qual eles foram criados para defender (a democracia). Por
isso, os serviços secretos precisam ser vigiados por um sistema complexo de
controle. No século XX, a Alemanha teve várias experiências negativas com seus
serviços secretos durante ditaduras. A Gestapo (durante o regime do Terceiro
Reich) e o Ministério de Segurança Estatal (Alemanha Oriental) combinaram o
poder policial e o da inteligência. Aprendendo a partir dessa experiência
negativa, a constituição atual da República Federal da Alemanha instiga a
separação entre a Polícia e os serviços secretos. Agentes secretos não podem
usar armas em operação. Apesar do controle rigoroso, o número de escândalos revelados
pertinentes ao uso ilegal de dados de pessoas observadas ainda é grande. O equilíbrio entre liberdade e segurança
deve ser objeto de continua renegociação.”
Tela iterativa no Museu da Espinagem. |
COMO FUNCIONA O SERVIÇO SECRETO NO BRASIL
Bem diferente a situação do Brasil, onde
as reformas aprovadas pelo ex-presidente Michel Temer, integrando serviços
secretos e polícias e dando poderes (quase?) ilimitados ao órgão foram pouco
divulgadas e discutidas pela sociedade. Leia a notícia de outubro de 2018 foi
reportada nos jornais Folha
e Valor
Econômico. A ênfase é no combate ao crime organizado, mas a falta de um
controle claro sobre a organização dá poderes ilimitados ao serviço secreto, que
pode se voltar contra sociedade. Se até na Alemanha, com milhares sistemas de
controle e uma separação clara entre polícia e serviço secreto, os escândalos
(vários) acontecem, imagina no Brasil.
Além disso, este mês, também foi notícia que
agora o diretor da Agência Brasileira de Informação (Abin), o nosso serviço secreto,
também pode classificar um documento como ultrassecreto sem prestar contas judicialmente
por isso, mais poder ilimitado para o órgão, sem controle. Veja como essa
notícia foi reportada nos jornais Valor
Econômico, Estadão
e na Revista Exame. Sem contar as trapalhadas que o nosso serviço secreto já fazia antes, como aquele agente do "Tinder" de 2016. O que foi que aconteceu com ele? O Exército prometeu apurar o caso, mas nada foi divulgado. Veja a entrevista que ele deu ao jornal El País na época. Não houve prova nem de que os jovens presos se conheciam, muito menos que pretendiam algum ato violento contra o então presidente Michel Temer, relembre a notícia no Estadão.
Alemães são super preocupados com a
segurança da informação e o uso de seus dados sociais. É muito raro eles terem
conta em redes sociais e, quanto têm, eles usam muito pouco.
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