LEITURAS DO DIA DOS NAMORADOS - ME PERDOEM, OS ROMÂNTICOS
Há um tempo, visitei uma loja de
discos e livros usados. A filha do dono é deficiente visual, mas é toda
empolgada com a loja e com receber bem os clientes. Ela me tratou tão bem que
fiquei sem graça de sair sem comprar nada. Acabei comprando Pomba enamorada ou Uma história de amor e
outros contos escolhidos.
Trata-se de uma coletânea de contos da
Lygia Fagundes Telles, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e
indicada ao prêmio Nobel há uns dois ou três anos. A autora já ganhou o Prêmio Jabuti e o Prêmio Camões, os maiores prêmios das literaturas brasileira e portuguesa, respectivamente. Já li o romance Ciranda de Pedra da autora, que também foi adapatado para telenovela (relembre
aqui). E faz um tempo que tento ler o romance As Meninas, mas ainda não consegui focar.
Até agora, gostei muito mais da Lygia
Fagundes Telles contista do que romancista. Os contos deste livro me fizeram
lembrar o gênio de Machado de Assis. Fiquei fascinada. Mas não façam como eu,
não leiam este livro próximo do Dia dos Namorados por achar que ele é
romântico. Todos os contos são estórias de amor tristes ou trágicas.
Lygia Fagundes Telles. |
O conto que dá nome ao título do livro trata da estória de uma mulher que sofre de um caso de amor patológico. Ela se apaixonou instantânea e obsessivamente por um rapaz que dançou com ela em um baile. Porém, não foi correspondida por ele. Mesmo assim, ela o perseguiu obsessivamente. Mesmo ambos tendo se casado e constituído famílias separadas por centenas de quilômetros de distância, ela continuou alimentando sua paixão por ele durante toda da vida. No passado, eu tive alguns (dois) casos assim, de amor platônico. Dos quais hoje eu me envergonho! Risos.
Isso me fez lembrar um outro livro sobre
amor patológico, o romance Amor sem Fim
de Ian McEwan, que foi adaptado ao cinema com o título, no Brasil, de Amor Obsessivo (Enduring Love). O protagonista do
livro sofre de erotomania, também conhecida como síndrome de Clérambault, que é
a convicção delirante de uma pessoa que acredita que outra pessoa, geralmente
de uma classe social mais elevada, está secretamente apaixonada por ela. Provavelmente,
esse era o caso daquele rapaz que atacou a Anna Hickmann há alguns anos atrás.
Ele acreditava que a apresentadora estivesse apaixonada por ele.
Não sou inclinada a fazer confissões sobre
a minha vida pessoal, mas hoje vou fazer. Possuo algum transtorno de distúrbio
social não diagnosticado. Eu acredito que seja algum espectro de autismo.
Também acredito que algumas pessoas tendem a superestimar os impactos desse
transtorno na minha vida. Principalmente, na minha vida profissional e amorosa. Na prática, esses impactos são bem menores do que as pessoas imaginam.
Filme baseado no romance Amor sem Fim. |
Algumas pessoas acham que isso é causado
pela depressão. Então, não é. Já fiz tratamento medicamentoso contra depressão
duas vezes e hoje controlo por meio de práticas de Yoga e meditação. Mas minhas características psicológicas "estranhas" estão comigo desde quando eu me entendo por gente.
Mesmo nos momentos em que eu não sabia o que era depressão.
Desconfio que algumas pessoas associam
essas características ao estigma da pobreza no Brasil. De fato, eu já fui muito
pobre. Hoje, graças a Deus, não sou mais. Porém já passei por situações
estranhas em que a pessoa continuava insistindo nessa tecla e eu não entendia
baseada no quê. Imagino que fosse por causa da minha condição psicológica.
Uma vez, há mais de uma década, estava
ficando com um rapaz. Eu terminei com ele, porque o relacionamento não tinha
futuro. Ele não aceitou bem o término e, segundo amigos, na versão dele, eu é
que não aceitava a separação e passei a persegui-lo. Muita gente deve ter
acreditado na versão dele. Para agravar a situação, como eu tendo à ideia fixa,
quando eu me apaixono, custo a desapaixonar. Na mesma época, eu era apaixonada
(platonicamente) por outro rapaz. Esse rapaz passou a me evitar e nunca mais
falou comigo. Acho que foi por medo de eu persegui-lo ou fazer alguma coisa com
ele, o que eu jamais faria em nenhuma circunstância. Nunca persegui ninguém,
nem mesmo as pessoas que eu mais amei na vida. Hoje eu farei alguma brincadeira
do tipo: “Filho, autismo é uma coisa, erotomania é outra, bem diferente... Você
nem é rico e nem famoso!”.
Passada essa fase, tive um relacionamento
por 4 anos e meio. Fui plenamente feliz nos aspectos sexuais e afetivos. Mas
acabou porque eu queria ter uma família e essa pessoa não me dava sinais de que
tinha o mesmo comprometimento. O término foi uma experiência muito dolorosa. Ele
ficava jogando na minha cara as características da minha doença: “Você não
consegue se comunicar direito!” e eu ficava tentando me desculpar por ter
nascido assim. Como isso não incomodou no primeiro encontro e se foi incomodar
quase 5 anos mais tarde? Puro desgaste desnecessário. Mas foi há cinco anos.
Ele já se casou inclusive.
Apesar de não manter mais nenhum contato
com ele, eu descobri o casamento pelo blog 500 livros. Uma pessoa sempre
deixava comentários anônimos que eu suspeitava que era ele. De repente, os
comentários pararam. Eu fui ver na internet e o último comentário foi postado
na véspera do casamento dele... Até aí... Cada doido com a sua mania. Risos! Depois
sou eu quem leva a fama de perseguir as pessoas... Risos! Jamais vou entender
porque ele deixava esses comentários no blog.
Página virada. Tive alguns
relacionamentos. Logo após o término, tive vários. Mas as pessoas parecem não acreditar.
Eu ficava muito entusiasmada quando me apaixonava e falava muita bobagem
(talvez eu ainda fale). Uma vez eu me apaixonei por um cara que não me queria.
Até aí, tudo bem. Mas o problema é que ele passou a falar para os meus amigos
que eu era maluca, que eu via coisas que não existiam... Uma amiga muito
próxima acreditou. A gente ficou duas semanas sem se ver. Ela me perguntou: “Onde
você estava?”. Respondi: “Em Paris.”. “Com quem?” “Com o Coragem e a família
dele, um amigo que você não conhece.”. Não gosto de postar fotos em rede
sociais. Não tinha nenhuma foto com o Coragem. Gente, deu um trabalho para
provar que esse amigo existia e que eu tinha mesmo ido para Paris. Risos. Hoje
em dia, eu prefiro dizer que o amigo é “imaginário” mesmo. Dá menos trabalho.
Risos.
O período difícil passou. Eu me dediquei à
prática de Yoga diariamente. Fiz uma coisa inédita, me abri para sair com uma
pessoa por quem eu não sinto atração. Tive muita sorte, porque é uma pessoa com
a mente aberta, que também gosta de viajar e muito apoiadora. Não consegui
superar a necessidade de ter atração física para desenvolver uma conexão mais
forte. Mesmo assim, valeu a pena, pois conheci lugares novos e consegui chegar
em áreas profissionais onde jamais chegaria sem incentivo e apoio. No meio do
caminho, surgiram outras pessoas e oportunidades. Eu me arrependo de ter
tratado mal as pessoas que gostavam de mim. Agradeço a todas elas. Não foi como
eu queria nem como eu imaginei, mas o destino me trouxe grandes alegrias.
Acredito que eu posso até me considerar mais realizada que a média das pessoas ditas
“normais”. Se você ainda quer romantismo, leia os romances da Jane Austin ou os
poemas do Pablo Neruda.
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Seu texto me arrepiou!!!! Quando você abre seu coração é para valer!!!! Minha amiga, sobre questão de sofrer loucamente de amores platônicos (mesmo sem perseguir a pessoa hauahuahua) e de não saber se comunicar com os outros entendo bem xD! De todo o resto, não consigo imaginar como alguém fala daquele jeito com você.... eu sinceramente amo a forma como você nasceu, você é uma das pessoas mais interessantes que eu conheço, e não vejo nada de errado até porque, o errado não existe! Se uma pessoa não entende isso, ela não tem condições de proporcionar um relacionamento pleno e feliz! Mas pessoas que saibam amar todas as camadas de alguém existem! Quem sabe uma delas não está cruzando o seu caminho? (não adianta, eu nunca deixo de ser romântica hauhauhaua) Mas ainda quero ler o livro da Lygia Fagundes Telles ;D
ResponderExcluirRô, você é romântica! E uma grande amiga. Muito obrigada. :)
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