O ÓDIO - WISLAWA SZYMBORSKA
Vejam como ainda é eficiente, como se mantém em forma o ódio no nosso século. Com que leveza transpõe altos obstáculos. Como lhe é fácil – saltar, ultrapassar. Não é como os outros sentimentos a um tempo mais velhos e mais novos que ele. Ele próprio gera as causas que lhe dão vida. Se adormece, nunca é um sono eterno. A insônia não lhe tira as forças; aumenta. Religião, não religião – contando que se ajoelhe para a largada. Pátria, não pátria – contando que se ponha a correr. A Justiça também não se sai mal no começo. Depois ele já corre sozinho. O ódio. O ódio. Se rosto num esgar [1] de êxtase amoroso. Ah, estes outros sentimentos – fracotes e molengas. Desde quando a fraternidade pode contar com a multidão? Alguma vez a compaixão chegou primeiro à meta? Quantos a dúvida arrasta consigo? Só ele, que sabe o que faz, arrasta. Capaz, esperto, muito trabalhador. Será preciso dizer quantas canções compôs? Quantas pági