ÁGUA, ELETRICIDADE E LITERATURA NO QUÉBEC
ELETRICIDADE E
VENTOS
Bom dia, pessoal. Por favor, me
desculpem pelas duas semanas de silêncio. Eu tento escrever todos os domingos,
mas, às vezes, não dá. No dia 1 de novembro, teve uma tempestade de ventos na
cidade. Foi bem difícil caminhar da minha casa até o campus. Houve inundação e
os ventos arrancaram os postes de eletricidade. A minha casa ficou quase 3 dias
sem eletricidade. Parece que quase 500.000 casas ficaram sem eletricidade na
Província de Québec, algumas por até cinco dias. Nesse período, começou a
faltar água também, porque a água congela. Naquela época, as temperaturas já
estavam abaixo de zero, agora estão ainda mais baixas. Agora as temperaturas
estão entre -10ºC e -20ºC. Foi um pouco difícil e estressante, mas, pelo menos,
foi no fim de semana, não atrapalhou muito a rotina de trabalho.
O QUE EU APRENDI COM
ESSA SITUAÇÃO?
Um grande amigo do Brasil me ensinou que
existe uma escala para classificar vento, chamada escala Beaufort (clique aqui para saber mais sobre o tema na Wikipédia em
português). Segundo essa escala, ventos de 60 km/h são classificados como
“vento forte” e “Movem-se árvores grandes. Dificuldade de andar contra o vento”. Eu acho
que 60 km/h foi o que eu enfrentei para ir de casa até a universidade. Parece
que, em alguns lugares, houve ventos acima de 100 km /h, classificados como “tempestade” e que "Arrancam árvores e fazem danos estruturais em construções".
Foto do campus nesta semana. |
COMO É GERADA A
ELETRICIDADE NO QUÉBEC?
Aqui, no Québec, quase toda
eletricidade é produzida por hidrelétricas (assim como no Brasil), o que é
considerado uma forma sustentável de produção de eletricidade. A empresa que
fornece a eletricidade se chama Hydro-Québec, o “hydro” vem de água.
Logo da Hydro Québec. |
QUEM CONTROLA A QUALIDADE DA ÁGUA?
Por falar em água, nesse mesmo mês,
houve uma revelação de que água do Canadá (e também a do Québec) está
contaminada, principalmente, por chumbo. Um amigo norte-americano me avisou
isso por e-mail, mandando uma reportagem em inglês sobre o assunto (você pode
lê-la clicando aqui).
Traduzindo um trecho da própria reportagem:
“O Canadá é um dos únicos países desenvolvidos no mundo que não
possui um padrão nacional de água potável. Até os países que lutam para
fornecer água potável segura estabeleceram níveis aceitáveis de chumbo: a Índia é de 10 ppb (parte por
bilhão) e o México e o Egito são de 5 ppb, de acordo com os sites governamentais do país.”
O chumbo pode causar, entre outros
males, atraso intelectual de crianças. Eu fui pesquisar sobre o Brasil, a
portaria Nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011 diz que é função dos estados
fiscalizar qualidade de água (clique aqui
para ler a portaria) e, que o chumbo (conforme anexo da mesma portaria) deve
estar abaixo da concentração de 0,01 mg/L. Se eu estiver convertendo certo, 1
ppm é igual a 1 mg/L, portanto, o Brasil permite até 10 ppb.
Resumindo, ao
contrário do Canadá, o Brasil tem uma legislação que regula o nível de chumbo
na água, porém, os níveis aceitáveis no Brasil são iguais aos aceitáveis no México e na Índia e duas vezes maiores do que os aceitáveis no Egito.
Eu fui pesquisar a água de Sherbrooke,
da cidade onde estou. Não achei uma companhia de água, como no Brasil. Mas
achei informações, no site da prefeitura (clique aqui
para conferir em francês), de que a cidade ganhou o prêmio de melhor água do
Québec em 2017 e melhor água da América do Norte em 2018. Eu escolhi acreditar
que é verdade.
O DRAMA DA ÁGUA NA
LITERATURA
Todo esse assunto me lembra literatura.
Existe uma peça de teatro do norueguês Henrik Ibsen
(1828-1906), chamada Um Inimigo do Povo. O drama da peça é a estória de
um jovem cientista que descobre que a água de sua cidade natal está
contaminada, uma pequena vila na Noruega que vive exclusivamente do turismo de
suas águas termais. Se as pessoas descobrirem, ninguém vai querer ir para a
cidade e a economia da cidade vai quebrar. Para complicar ainda mais a
situação, o irmão do cientista é o prefeito da cidade.
Livro que narra o drama (ficcional) da contaminação da água de uma pequena vila na Noruega. |
MAIS UM LIVRO DA
LITERATURA DO QUÉBEC
De livro em livro, vamos falar da
literatura no Québec. Vocês já sabem que eu terminei de ler Tout ce qu’on ne te dirás
pas, Mongo (Tudo que não
vão te contar, Mongo) do Dany Laferrière,
sobre a experiência dele de imigrante no Québec.
Agora estou lendo Kuessipan da nativa americana innuie (a gente chama
vários povos diferentes de “esquimó”
no Brasil, podemos pensar os “innue” como esquimós) do Québec, Naomi Fontaine.
Estou lendo este livro, porque vi o
filme com mesmo título, livremente inspirado na obra da autora, e gostei muito
do filme. Para minha surpresa, o filme é uma história coerente (com começo,
meio e fim), que se passa em uma reserva indígena em Sept-îles, uma região ao norte do Québec, a 875 km de
Sherbrooke. É uma cidade de quase 29.000 habitantes, segundo a Wikipédia.
Mapa mostrando os lugares que eu falo no texto. |
O livro, no entanto, é uma coleção de pequenos
contos esparsos. A leitura é ideal para aprimorar o francês, pois os textos são
curtos e as palavras são do cotidiano (aprendi como falar “dar seta”, “dar luz
baixa” e “dar luz alta”, lendo o livro). A leitura também é agradável, por ser
poética.
Mas é muito difícil que alguém que não
viu o filme entenda do que a autora está falando. Por exemplo, o livro fala de
religião na reserva (os innues são majoritariamente
católicos praticantes) e de um velório de um jovem, que dura, em
média, três dias e três noites.
De acordo com o filme, a família da
autora estava guardando dinheiro para pagar a faculdade do irmão da autora (que
era jogador de hóquei), mas ele morreu com 18 anos em um acidente de carro.
Como ela era a única filha viva, a família passou as economias para ela e pagou
a faculdade dela na Universidade de Laval, na cidade de Québec (uma das
melhores do Canadá), a 640 km da reserva de Sept-Îles.
Foto do campus de Sherbrooke há duas semanas, quase no mesmo local da segunda foto deste post. |
De acordo com a Wikipédia, Naomi Fontaine nasceu em 1987, portanto, tem 32 anos e estudou pedagogia na Universidade de Laval. Naomi Fontaine é uma das autoras nativas americanas mais conhecidas do Québec e ela já publicou três livros:
·
Kuessipan (2011), o único traduzido também
para o inglês;
·
Manikanetish (2013); e
·
Tracer
un chemin: Meshkanatsheu (2017), em coautoria com Olivier Dezutter e Jean-François
Létourneau.
E, por falar em tradução, preciso avisar
que agora a escritora brasileira Conceição Evaristo já tem
quatro livros traduzidos para o francês (Ponciá Vicêncio, Olhos D’água,
Insubmissas Lágrimas
de Mulher e Poemas da Recordação e outros Movimentos) e seis
para o inglês (confira um artigo sobre os livros dela traduzidos para inglês,
clicando aqui).
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BOAS LEITURAS!
Minha grande amiga, só você para encontrar ganchos tão geniais , como sua escrita é fluida, os textos são tão agradáveis de se ler que parece que a leitura durou alguns segundos!!! Amo o jeito como, partindo do seu cotidiano, você sempre extrapola para um tema interessantíssimo, a fim de nos trazer informação e cultura de um jeito leve, e como os ganchos levam invariavelmente a indicações de leituras tão pertinentes ao tema, (e indicações tão raras de se achar!) Um dia, se eu ler 1/10 dos livros que você indicou por aqui, ficarei feliz! ;D
ResponderExcluirMuito obrigada, Rô
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