COMO SERÁ O MUNDO PÓS COVID-19?


Hoje de manhã eu ouvi, por meio dessa maravilha que se chama internet, um rabino (confinado na casa dele em Israel), falando que, provavelmente, nenhum judeu do Holocausto (sobrevivente ou não) poderia imaginar e visualizar, em 1945, que apenas três anos depois, em 1948, o estado de Israel, o estado judaico, seria finalmente reconstruído, após ser destruído há mais de 2.000 anos. É muito difícil ver a frente, quando a mudança é disruptiva.

Gravura contemporânea de Nápoles durante a Praga de Nápoles (Peste Negra) de 1656.

Li um texto de um doutorando em Mudanças Disruptivas pela Universidade de Sherbrooke no Canada, chamado Jamel Gamra. Ele analisa quais são as mudanças de que governos, empresas, pessoas e sociedades civis devem adotar em uma Tunísia (país de origem do autor) pós covid-19. Ele também questiona os pressupostos da globalização. Para quem quiser ler o texto original, publicado em uma revista sobre liderança, vou deixar o link aqui. O autor do best-seller Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, Yuval Noah Harari, também escreveu algumas considerações sobre o mundo pós covid-19. Sua maior preocupação foram os governos autoritários e o controle que eles passarão a ter sobre as massas, e a necessidade de se articular, por exemplo, o transporte aéreo, de uma maneira mais global (clique aqui para conferir o texto na íntegra). Enquanto Harari luta por uma solução global possível, Gamra retorna para soluções nacionalistas. Talvez exista uma solução intermediária. Não quero entrar em polêmicas, só quero explanar, em uma perspectiva histórica, sobre algo que parece consenso:

TODAS AS PANDEMIAS MARCARAM O FIM DE UMA ÉPOCA E O COMEÇO DE UMA NOVA ERA

1.   A Peste Antonina, dizimou o Império Romano (Itália, Norte da África, Sul da Europa e Espanha) a partir do ano 165 (veja o link para Wikipédia, clicando aqui).
A peste enfraqueceu o estado romano ocidental e contribui para o seu derretimento. Ela também contribuiu para o enfraquecimento das religiões pagãs romanas e o crescimento do Cristianismo.

Anjo da Morte vindo atá a porta de Roma por Jules-Élie Delaunay.

2.   A Praga de Justiniano, que dizimou o Império Bizantino a partir do ano 541 (veja o link para Wikipédia, clicando aqui).
A praga começou no Egito e atingiu a Turquia, até a capital do Império na época, Constantinopla. Ela enfraqueceu grandemente os impérios bizantinos e persas e a doença chegou aos portos europeus da época. A praga marcou a queda do Império Bizantino e a ascensão do Islã.
Antonio e Justiniano eram os imperadores de cada império. É interessante que o nome da doença, que não foi causada por eles, ficou com o nome dos governantes da época. As pessoas não tinham a noção de estado moderna, e os governantes eram vistos como “mitos”, “heróis” ou “vilões”.

Um dos sintomas da Praga de Justiniano era a necrose das mãos.

3.   A Peste Negra, no século XIV, possuía uma taxa de mortalidade de 90% e se espalhou por todos os continentes conhecidos à época (exceto nos continentes americanos e na Oceania, que ainda não tinham contato com outros continentes – acesse o link para a Wikpédia, clicando aqui).
A Peste Negra deixou marcas no genoma humano, descendentes de pessoas que sobreviveram à peste são mais resistentes a vários tipos de bactérias (referência aqui). Embora não seja consenso, acredita-se que ela pode ter tornado os europeus mais resistentes ao vírus HIV (referência para estudos que dizem que sim, a peste negra tornou pessoas geneticamente resistentes ao HIV, aqui, e que dizem que não, as pessoas geneticamente resistentes ao HIV, os são por outro motivo, aqui). Eu fiz o teste e não sou geneticamente imune ao vírus HIV. Cerca de 10% dos europeus são resistentes.
A Peste Negra marcou o fim da Idade Média na Europa e o início do Renascimento. Ela é associada à origem da noção de Estado moderna e ao desenvolvimento do pensamento científico.

O Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel, reflete o levante social e o terror que se segui à praga, que devastou a Europa Medieval

4.   A Gripe Espanhola (que surgiu nos EUA, embora seu nome seja espanhola), possuía uma taxa de mortalidade de 30 a 40% e matou cerca de 100 milhões de pessoas, entre os anos de 1918 e 1920 (Acesse o link para a Wikipédia, clicando aqui).

Livro sobre as memórias de uma criança durante a chegada da Gripe Espanhola no Brasil.

A Gripe Espanhola chegou ao Brasil. Segundo a Prof. Lili Schwarz, no vídeo abaixo, foi por causa da Gripe Espanhola, que o então Presidente, Getúlio Vargas, criou, pela primeira vez na nossa História, o Ministério da Saúde. Em um outro vídeo, a professora recomenda, como sugestão de leitura para essa quarentena, o livro Chão de Ferro do médico e memorialista, Pedro Nava. Ele conta como foi a sua infância em São Paulo, durante a chegada da gripe espanhola. 
Minha avó tinha um "santinho" com Nossa Senhora e atrás vinha uma oração em espahol pedindo para nos livrar da gripe espanhola. Esse santinho ficou comigo, mas não consigo encontrá-lo mais. Se eu achar, posto aqui no blog.



5.   A Covid-19 em dezembro de 2019...

Nossos bisnetos estudarão esse evento nos livros de História e saberão que nós passamos por ele. Não me arrisco a fazer previsões agora. Um amigo acredita que a Organização da Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) devem se fortalecer e que um organismo internacional deve ser criado para estudo e vigilância do surgimento de novos vírus. Talvez um protocolo internacional seja criado para viagens áreas em caso de suspeitas de pandemia (quem pode viajar? como? e por quanto tempo?). Sinceramente eu gostaria de crer que não iremos para governos ultra-religiosos, como aconteceu depois da Peste Antonina e da Praga Justiniana. Gostaria de acreditar que o pensamento racional e científico, o controle das fake news, vai ser priorizado. Semelhante ao que aconteceu após a Peste Negra.
Muito obrigada por permitirem que eu compartilhe isso. Querendo saber mais novidades, vocês me acham no Facebook e no Instagram.
BOA SEMANA!
BOAS LEITURAS!

Comentários

  1. Que texto bárbaro! Realmente ainda não consigo prever qual caminho a gente vai seguir após tudo isso, mas só tenho certeza de que nada será como era antes, não consigo imaginar todos voltando a viver normalmente como se nada tivesse acontecido. Realmente será um divisor de águas que irá pautar toda a sociedade do século XXI. Tenho muito medo da ascensão do ultranacionalismo, de sociedades religiosas fundamentalistas, do aumento da pobreza e da desigualdade social, ainda pior do que era antes (espero que a gente não vá para esse lado). Que o lado do desenvolvimento da ciência, do investimento em saúde e educação, implementação da renda mínima e taxação de grandes fortunas seja o nosso novo "normal". Não sei se é sonhar demais hehehe
    Tenho receio também de como serão as relações humanas daqui pra frente

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