PROFISSÕES FRÁGEIS E ANTIFRÁGEIS: O PODER DA INFORMAÇÃO

Boa noite, galera. Nesta semana, consegui evoluir na leitura do livro Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos do escritor e doutor em estatística líbano-americano Nassim Nicholas Taleb.


Minha leitura da semana.


O autor divide a obra em sete livros. Sim, é um livro divido em livros, porque cada “sublivro” desenvolve um tema de maneira aprofundada e quase independente. Estou começando o Livro III. Essa divisão em livros me fez lembrar o livro Origens do Totalitarismo da Hannah Arendt que também é divido em três “sublivros”, Antissemitismo, Imperialismo e Totalitarismo. Mas parece que eram três livros separados mesmo, que a autora depois resolveu juntar.


Assim como Antifrágil, Origens do Totalitarismo também é subdivivido em livros.


O Livro I, na minha edição, vai da página 37 até a 95, e se chama O antifrágil: uma introdução. Como o título deixa claro, o autor define o que é e quais são as propriedades da antifragilidade. Também discute a escolha entre a antifragilidade do coletivo e a fragilidade dos indivíduos.

O autor começa discutindo a importância de sabermos o antônimo (significado oposto) de uma palavra. Tenho um conhecido que, assim como o autor, é de origem árabe e também vive se perguntando pelo oposto das palavras. Fiquei me perguntando se isso é um costume da cultura árabe. O que vocês acham?

Agora pare e responda, para você, qual é o contrário de frágil?

Reflita por 5 minutos.

Provavelmente virão palavras como robusto, forte, inquebrável, resistente, sólido, à prova de alguma coisa, etc.

Porém, na visão do autor, trata-se de um erro. Por exemplo, o contrário de positivo é negativo e não neutro. O oposto de fragilidade positiva deveria ser fragilidade negativa e não resistência, que se equivale à condição neutra. A fragilidade negativa ou a antifragilidade, como prefere o autor, é a propriedade de ficar melhor com o trancos e solavancos da vida (físicos ou metafóricos). É diferente de só aguentar os trancos e solavancos. É tirar partido, melhorar e ter uma vantagem notável com eles.

Aqui vou fazer um julgamento do autor, sobre o qual posso estar errada. Mas ele me pareceu muito insistente em usar as suas palavras para os termos. Por exemplo, ele reclama (acho que no prólogo) que os acadêmicos não entendem o conceito que ele está propondo e querem chama-lo de “robustez”. Eu no lugar dele pensaria “Ah, tá. Vocês querem chamar de robustez? Então vou chamar de robustez de Taleb” e tocava o barco. Eu não iria ficar insistindo com o uso de uma palavra que está sendo bem aceita, acharia mais fácil trocar de palavra.

Mas por que é tão importante ter uma palavra para definir algo? Porque a antifragilidade está em todos os lugares, no corpo humano, na sociedade, nos negócios, na política, etc. Nós provavelmente temos dificuldade de nota-la porque não temos um termo para designá-la. A falta de um termo também faz com que a discutamos e sejamos capazes de tomar decisões mais acertas, baseadas na antifragilidade.

Outro ponto importante destacado pelo autor, é a dependência que nós temos pelo domínio. Domínio aqui quer dizer qualquer área ou categoria de atividade. Nas palavras do próprio Taleb:

Algumas pessoas podem compreender uma ideia em um domínio, por exemplo a medicina, e não conseguir reconhece-lo em outro, digamos a vida socioeconômica. Ou a aprendem na sala de aula, mas não no contexto mais complicado da vida real. De alguma forma, os seres humanos não são capazes de reconhecer as situações fora dos contextos em que geralmente aprendem sobre elas.

Já aconteceu com vocês? Para mim, acontece com frequência sobre machismo. Acho que o termo “machismo” é muito geral e abrange muitas coisas que são completamente diferentes, por isso, as pessoas têm dificuldades de identifica-lo.

O MACHISMO FORA DO DOMÍNIO

Por exemplo, uma vez uma pesquisadora, vamos chama-la de Maria, sofreu um problema grave de saúde (quase morreu) e, uma semana após esse episódio, o orientador dela mandou que ela vestisse uma saia, colocasse um salto alto e ficasse de pé durante toda uma noite (o que não era medicamente aconselhável para o caso dela) para receber empresários em um evento. Cerca de um mês depois, esse mesmo orientador comentou que o trabalho de um colega homem, vamos chama-lo de João, era melhor do que o da Maria. Meu comentário para Maria foi:

“O dia que seu orientador mandar o João, logo depois de sair do hospital, vestir uma saia, colocar um salto alto e ficar à noite inteira sorrindo para empresários, você deixa ele falar que o trabalho do João é melhor que o seu.”

Ela respondeu que nunca tinha percebido que isso também era machismo, que não precisava ser mulher para receber empresário. Se a gente pensar racionalmente, existem empresários homens e mulheres. E mesmo dentro dos homens, existem os gays. A solução ideal racional para agradar o maior público possível seria mandar homens e mulheres para uma recepção de empresários.

Sou levada a crer que o orientador mandou só as pesquisadoras mulheres porque ele tinha um conceito pré-concebido de que só existem empresários homens e heterossexuais, portanto, mulheres agradam. Ou que mulheres são mais agradáveis e delicadas, ou mais burras, que um dia a menos de pesquisa delas não ia fazer diferença. Em todos os casos, é machismo, mas as pessoas não se dão conta disso, porque está em outro domínio. Elas estão acostumadas a pensar que machismo é só bater em mulher ou algo bem estereotipado.

PROFISSÕES FRÁGEIS E ANTIFRÁGEIS: O PODER DA INFORMAÇÃO

Voltando ao livro, lá pela página 60, Taleb propõe que informação é antifrágil, pois “ela se alimenta mais das tentativas de prejudica-lo do que dos esforços para estimula-la”. Ou seja, quanto mais nos preocupamos com as críticas, mas elas aumentam. E quanto mais nos esforçamos para ser elogiados, menos isso tende a acontecer.

Ele diz que algumas profissões são frágeis em relação ao comportamento antifrágil da informação e outras profissões são antifrágeis. Por exemplo, enquanto eu estava na América do Norte houve um escândalo nos EUA de uma professora universitária acusada de ter um envolvimento sexual com um aluno. Ela foi presa e condena por vários anos e perdeu seu direito de exercer a profissão para sempre. Eu tinha um professor conhecido que não concordava com o fato dela perder o direito de trabalhar. Achava a punição severa demais. Isso já aconteceu várias vezes com professores homens lá, mas acho que foi uma das primeiras vezes que aconteceu com mulheres. Profissões como “professor universitário” e “executivo” normalmente são frágeis à informação, elas são muito sensíveis à críticas e escândalos.

Ao contrário, as profissões de artista e escritor são antifrágeis à informação. Até um certo limite, quanto mais crítica e escândalo, melhor para a carreira do artista. Entre os exemplos do autor, ele cita o livro A Revolta do Atlas da filósofa Ayn Rand, que alcançou um enorme sucesso porque foram duramente criticados tanto o livro quanto a autora.


Como a profissão de escritor é antifrágil à crítica (quanto mais crítica, mais vende), esse livro é um dos exemplos que vendeu milhões de exemplares devido às duras críticas que obteve.

Eu tenho um conhecido de esquerda que, antes mesmo de eu tomar conhecimento sobre A Revolta do Atlas, me dizia “Eu até respeito e entendo o pensamento liberal, mas eu não suporto ler A Revolta do Atlas.” Muito tempo depois, eu ganhei A Revolta do Atlas e fui tentar lê-lo. Não consegui terminar. Eu me considero liberal de carteirinha, mas achei a leitura muito chata, muita coisa irrelevante no meio da história. Só fico um pouco frustrada porque, depois que eu tentei ler, nunca mais encontrei esse conhecido para responder “Nem eu” quando ele me dissesse que não suporta Ayn Rand. Será que agora eu aticei a curiosidade de vocês para ler a obra?


Ayn Rand (1905 - 1982), escritora, dramaturga e filósofa norte-americana de origem judaico russo, que se obteve enorme sucesso devido às duras críticas que recebeu.


Bom... Já falei muita coisa e só comentei as primeiras 60 páginas. Espero que tenham gostado.

Muito obrigada por permitirem que eu compartilhe isso. Querendo saber mais novidades, vocês me acham no Facebook e no Instagram.

BOAS LEITURAS!

 


Comentários

  1. Este texto está um primor, uma resenha riquíssima de conteúdo! Você extrapolou o conceito de domínio explicado pelo autor de uma maneira genial! Com certeza a grande parte do comportamento machista e racista da sociedade se deve a esse padrão estrutural, as pessoas não reconhecem seu próprio machismo / racismo fora do contexto que elas acham que o preconceito existe, mas na verdade ele está em todo lugar! Realmente deu vontade de ler este livro por curiosidade, bem antifrágil mesmo hahaha

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A SUÍÇA E SEUS ESCRITORES: DE ROMANCES A LIVROS EMPRESARIAS

TRÊS TEMPLOS NA ÍNDIA: AKSHARDHAM, GALTAJI e SIDDHIVINAYAK

HISTÓRIAS ÍNTIMAS – MARY DEL PRIORE