COMO EU FUI PARAR NA ETIÓPIA (SOZINHA)? E O QUE EU EXPERIMENTEI POR LÁ?
Como a maioria já deve
saber, o ator Chadwick Aaron Boseman, que fez o herói do
filme Pantera Negra,
morreu no dia 28 de agosto último, vítima de um câncer. O filme Pantera Negra
representou um marco por trazer e integrar diversas referências às culturas
africanas.
Nesta semana, vi diversas
homenagens ao ator nas mídias, assisti a um episódio no YouTube da Coluna do Garrone comentando as diversas culturas que
existem no continente africano e os pensamentos equivocados das pessoas. O
episódio África (Muito além de Wakanda) da Coluna do Garrone dura 31 minutos e 42 segundos. Ela é
superbreve, por ser uma introdução, mas ela é clara e didática. Tudo em
português. O Garrone é um superjornalista. Por isso, vou deixar o link completo para o vídeo aqui embaixo.
Resumindo:
#1. A ÁFRICA É UM CONTINENTE NÃO UM PAÍS
#2. TEM MUITA COISA PARA VER LÁ
AGORA, COMO EU FUI PARAR NA ETIÓPIA?
Para completar a semana, um amigo veio comentar comigo sobre o episódio que ele viu na GNT sobre a Etiópia. Meu amigo ficou com vontade de visitar o país, como ele sabe que eu já visitei, veio conversar. Entre as pessoas famosas, o Fábio Porchat é uma pessoa que já fez diversas viagens para a África. Eu já ouvi ele falando que uma das melhores viagens da vida dele foi para o Congo, para o parque de gorilas (o Parque Nacional Virunga, link para Wikipédia em inglês aqui). Além disso, também escutei ele falando que fez uma viagem sozinho para Etiópia, durante 10 dias, porque ele queria estar em paz e refletir sobre a vida.
Parque Nacional de Virunga, no Congo. Local único no mundo, por proporicionar a experiência com gorilas. Foto da Wikipédia. |
Eu fui muito
rapidamente para a Etiópia. Fiquei só na capital, Adis Abeba, mas me apaixonei
pelo país. Acreditem ou não, eu fui para lá sem planejar nada. Era uma conexão
para Índia, eu fiz ela durar dois dias na Etiópia e pronto. Não reservei hotel,
não contratei guia, não tirei nem visto.
Cheguei no aeroporto e
pedi, no guichê da companhia aérea, para sair e conhecer a cidade, porque eu
tinha lido, no blog de um fotógrafo, que a Ethiopian Airline pagava
visto e hotel para casos como o meu, de conexão. Eu perguntei no Brasil se isso
era verdade e a representante da empresa não conseguiu me informar. Pensei: "Chegando
lá, eu resolvo. Vou pagar para ver". Aliás, antes de ir, eu perguntei para um
aluno meu, que é piloto internacional há mais de 20 anos, se a empresa Ethiopian
Airlines era boa. Ele me respondeu que é uma das melhores em operação no mundo,
com a frota mais renovada.
Ethiopian Airlines foi uma empresa aérea que me surpreendeu pela qualidade. Foto pessoal. |
Não rolou o hotel, mas
me deram o visto de graça e me recomendaram um hotel e a van, que me levaria
para o hotel. Entre o aeroporto e a van tinha uma área turística, com vários
guias turísticos, todos certificados pelo governo. Eu fiz contato com um,
chamado Kaleab, e combinei que ele me pegasse de carro no dia seguinte para
fazermos os pontos turísticos da cidade. Eu cheguei à noite na Etiópia.
#3. NEM TUDO NA ÁFRICA É CALOR
A primeira surpresa que
eu tive foi que o país é muito frio. Aquele clima da cidade de São Paulo no
inverno. Eu cheguei de short e camisa e estava dez graus, quando eu saí do
avião. Quase congelei. Para não falar que eu não me preparei de forma nenhuma
para essa viagem, eu me preparei, sim. Eu contatei um etíope no campus da USP e
perguntei para ele sobre vestimentas. Se tinha alguma roupa que, se eu usasse, ofenderia
os locais. Ele disse que não. Mas, em momento algum, ele me disse que era frio
demais para eu pensar em usar pouca roupa...
O QUE ACONTECEU QUANDO EU PEDI UM PRATO
TRADICIONAL DE ALGO QUE EU NÃO SABIA O EU ERA: INJERA, WOT E CAFÉ
Antes de ir, um amigo
tinha me recomendado experimentar o prato típico da Etiópia, a injera (link
da Wikipédia em português aqui).Imagina
se eu fui pesquisar o que era. Só falei, sim, e memorizei a sugestão. Eu só
descobri que era um tipo de pão lá. E só descobri que esse pão não é feito de
trigo, muito tempo depois. A injera
é um pão feita de uma planta chamada Eragrotis tef, chamada
em inglês de tefe, é um cereal comum
da Etiópia e da Eritréia. A base da alimentação local.
A injera é este pão, com ele, as pessoas agarram uma porção de comida para a levarem à boca. Come-se coletivamente, todos no mesmo prato. Foto da Wikipédia. |
Por falar em plantas, a
Etiópia é um país vegano. Em alguns dias da semana, é proibido comer alimentos
de origem animal. Não sei o porquê. Só sei que eu cheguei em um dia desses e
foi muito estranho comer bolo sem leite no hotel. Mas era muito gostoso. A
comida africana, pelo que eu provei e pelo que já conversei com colegas
pesquisadoras nigerianas, é muito parecida com a comida brasileira. Só que a etíope,
na maioria dos casos, não tem carne.
Aí eu cheguei para o
meu guia e pedi para provar a injera e tomar café (a Etiópia é o país de onde o
café se originou). Ele me perguntou qual injera. Parece que tem várias. Aí eu
respondi “a tradicional”. Ele sorriu e me levou em um restaurante bem popular.
Nem era hora do almoço, a dona do restaurante aceitou fazer uma “injera” mais
cedo só para me agradar porque eu era turista. Agora, pensando retrospectivamente,
o que eu comi foi um wot, feito de
injera (link para Wikipédia aqui).
O problema é que ela
fez o prato na minha frente. Era nojento assistir a ela preparar, colocando um
monte de coisas meio nojentas dentro de uma bola e depois assando a bola de uma
forma não convencional. Todo mundo rindo, feliz, os etíopes felizes porque eu
queria conhecer a cultura deles. Foi nesse momento que eu pensei “Eu pedi esse
prato. Eu vou ter que comê-lo” e xinguei o meu amigo mentalmente. Aí o prato
veio em uma bandeja, uma bola de injera, recheada de legumes, servida em uma
bandeja. Como eu era a “visita” me deram uma faca e pediram para eu estourar a
bola. Acho que era um tipo de reverência. Na hora que eu estava furando a bola,
eu xinguei mentalmente até a mãe do meu amigo. Tenho certeza que ele só provou
injeras limpinhas em restaurantes etíopes da Europa e da América do Norte. Mas
eu já estava lá mesmo, aí eu deixei rolar e comi. Era muito gostoso.
Meu guia e nosso motorista comendo injera. Me deram o ovo cozido que estava dentro da bola, acho que também era para me agradar, porque eu era turista. Este par de tênis são meus pés. |
Só que eu recomendo
fortemente que, se você for na Etiópia, não assista o pessoal cozinhando as
comidas típicas. Para o seu bem psíquico. Ao contrário do que aconteceu com o
Fábio Porchat, não tive nenhum problema digestivo com comida ou com a água lá.
Depois desse almoço maravilhoso, tomei um café também tradicional. Foi o melhor
café da minha vida. Tudo valeu a pena só por aquele momento. Eu sou
praticamente sommelier de café (já
fiz dois cursos de degustação e harmonização de grãos). Foi uma das melhores
experiências gustativas da minha vida. Eu iria na Etiópia, sairia do aeroporto
só para tomar aquele café, achando que valeu a pena a viagem.
|
Se deixar, eu fico
falando da Etiópia até o fim dos tempos... Ainda tem muita coisa para falar,
tais como a diferença entre os pontos turísticos no sul e no norte do país.
Também gostaria de falar sobre outros países africanos, que, aos poucos, estou
tomando conhecimento, tais como o Mali, Moçambique, Nigéria, Madagascar, Congo,
Benin, Argélia, etc. É assunto para uma vida. Não quero me comprometer, mas,
aos pouquinhos, aproveito este espaço para compartilhar um pouco mais de
descobertas sobre esse continente tão maravilhoso, que é a África.
Muito obrigada por permitirem que eu compartilhe isso. Querendo saber mais novidades, vocês me acham no Facebook e no Instagram.
BOAS LEITURAS!
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