MÃES ARREPENDIDAS - UMA OUTRA VISÃO DA MATERNIDADE
Terminei de ler o livro “Mães Arrependidas – Uma Outra
Visão da Maternidade” da socióloga israelense Orna Donath. Antes que alguém pergunte, a coisa que eu mais
quero na vida é ter filhos. Só que eu sou filha única de pais idosos e doentes.
Não tenho nenhum parente vivo com quem possa contar. Também tenho transtorno de
espectro autista e, quando eu nasci, meus pais tinham 37 anos. Provavelmente a
idade avançada deles, contribuiu para que eu fosse autista (coisas que ninguém
te fala sobre ter filhos depois dos 30).
Como eu estou com 33 anos... Não
acredito que eu possa ou seja conveniente ter filhos nessa idade (Por favor, não perca seu tempo tentando me convencer do contrário). Graças a D’us,
eu não tenho nenhum problema em adotar, não sou daquelas mulheres que sonha e
faz questão do processo da gravidez. Eu gostaria, mas não faço questão. Eu
foquei minha vida em conseguir alta renda e estabilidade para poder ter
autonomia e poder adotar. Graças a D’us, também estou conseguindo. Por isso,
estou em uma fase lendo livros sobre filhos e maternidades. Eu comprei dois
livros de uma lista sobre livros que toda mulher deveria ler antes de se tornar
mãe. Este era um deles.
Já ouvi dizer (no programa Democracia na
Teia do Pondé), que, em Israel, a média de filhos por mulher, entre as
não-religiosas, é quatro filhos e, entre as religiosas, é nove. Acredito que
seja a maior taxa de natalidade entre os países desenvolvidos. Deve haver uma
pressão social muito forte para ter filhos em Israel, e a autora é uma militante
contra isso.
Mas, baseada na minha experiência de
vida no Brasil, o que a autora conta no livro é algo entre “ficção científica”
e “surrealismo”. É uma realidade tão diferente da minha que é desafiador traçar
um paralelo.
A autora entrevista 28 mulheres (anonimamente)
que se arrependiam da maternidade. Eram mulheres de diversas idades, diversas
classes sociais, estados civis, compartilhamento do cuidado dos filhos, etc.
Quando eu li o título “mães arrependidas”,
eu pensei em “arrependimento” no caso das mães que veem seus filhos passando
fome ou com uma doença terminal, aí alguém vai lá e pergunta “Você se
arrependeu na maternidade?”. É lógico que alguém assim, no intenso sofrimento,
pode dizer “sim”. Mas, esse não é “arrependimento” que o livro trata. A autora
define arrependimento para Sociologia. Alguém só pode se arrepender se, em
condições livres, tranquilas e normais, ela reflete sobre a decisão que tomou e
vê mais desvantagens do que vantagens. Essas declarações ditas em extremos
sofrimento, que eu imaginei, são apenas sofrimento mesmo e não caracterizam um
arrependimento para a Sociologia.
A autora milita que, independentemente
das circunstâncias (serem ricas e terem apoio familiar), algumas mulheres não
queriam (e não querem) ter filhos. E que isso deveria ser aceito pela
sociedade. Embora pareça surrealismo para mim, aceito que todas as pessoas
devem ser respeitadas, que muitas delas se arrependem da maternidade e não dos
filhos, que são boas mães e que não são pessoas monstruosas por isso. Depois da
leitura, sou mais consciente de que existem mulheres assim e de que elas devem
ser apoiadas.
Uma reflexão interessante é sobre a
dicotomia “mulher que quer ser mãe” e “mulher que ter uma carreira”. Muitas
mulheres que não querem ser mãe também não querem ter uma carreira, elas querem
só viver de boa e ter uma renda básica para garantir a autonomia. Na verdade,
isso faz todo o sentido para mim, porque se eu não quisesse ter filhos, eu
jamais seguiria uma carreira. Do lado oposto do jogo, eu sempre tive que
enfrentar o choque das pessoas em saberem que eu queria ser mãe e ter uma
carreira. Fiquei aliviada em saber que também existem mulheres que não querem
nenhuma das duas coisas e elas se sentem tão discriminadas quanto eu.
Acho que a linha fundamental da autora é
que quando uma mulher diz que não quer ter filhos, sempre dizem para ela “você
vai se arrepender”, mas nunca dizem a uma mulher que quer ter filhos, “você vai
se arrepender”. Sendo que podemos nos arrepender de qualquer dos nossos atos
(fumar ou parar de fumar, praticar exercícios ou não praticar, etc.), tanto de
ter quanto de não ter filhos. Eu me arrisco a dizer que a probabilidade é quase
a mesma para os dois atos (tudo depende do nosso autoconhecimento). Mas só um
tipo de arrependimento é tabu na sociedade.
É muito surreal para mim, porque eu já
ouvi, mais de uma vez, que se eu quiser “atrair” um homem, eu não posso dizer a
ele que quero ter filhos nos primeiros encontros, eu preciso dizer que não
quero, e depois ir seduzindo o homem, até que ele mude de ideia. Eu acho isso
um absurdo, porque quando um casal tem os mesmos objetivos no médio e longo
prazo, o relacionamento, ainda assim, é muito difícil de ser construído e exige
empenho. Imagina quando eles não têm? Um quer ter filhos e o outro, não. É
pedir para dar errado.
Também teve uma vez, na indústria, que
um gerente de outro setor, sem me perguntar nada, ele simplesmente assumiu que
eu não queria ter filhos, por ter 20 e poucos anos e estar na empresa
trabalhando, sem ninguém começar um assunto sobre filhos, do nada mesmo, ele
costumava dizer várias vezes: “Minha mulher, quando eu conheci, tinha 28 anos e
também dizia que não queria ter filhos. Aí a gente casou, o relógio biológico
bateu e, com 32 anos, ela já tem dois.”. E eu pensando: “Ela te fez de trouxa e
mentiu para você, conforme a cartilha para arranjar marido. Será que você não
sabe mesmo? Ou não quer acreditar que sua mulher minta para você e te manipule?”.
Para quem viveu esse tipo de realidade,
como eu, os exemplos que a autora trouxe são surreais. É um tema polêmico. É um
livro que vale a pena ser lido pela ousadia do tema. Ele é bem escrito e bem
editado. Vale a pena lê-lo, mesmo que você termine, como eu, achando que o
livro não foi escrito para você.
Muito obrigada por permitirem que eu
compartilhe isso. Querendo saber mais novidades, vocês me acham no Facebook e no Instagram.
BOAS LEITURAS!
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