Cinco Passos para se tornar Especialista em Qualquer Coisa? Minha Experiência com Vinhos


Tenho dificuldade para comer alimentos sólidos. Geralmente tenho uma crise de ansiedade e não consigo degustar. Talvez, por isso, eu me esforço para entender de gastronomia, bons restaurantes e degustação. Só que essa crise de ansiedade não acontece com líquidos.

MINHA EXPERIÊNCIA COM CERVEJA

Por exemplo, eu amo cerveja. Quando ganhei a bolsa do Governo da Alemanha (a bolsa chama Winterkurs, saiba mais clicando aqui), tive a oportunidade de visitar uma amiga belga. Nós degustamos várias das melhores cervejas do mundo. Foi ótimo. Com certeza, é uma experiência que quero repetir.


Fonte: Unsplash - Crédito: Jaeyoung Geoffrey Kang - @geoffreykang_21


MINHA EXPERIÊNCIA COM CAFÉ

Já no Brasil, tive a oportunidade de fazer cursos de degustação de café no Sesc e no Senac, assim como curso harmonização de café com outros alimentos (bolo). Quando eu fui apresentar um trabalho em uma conferência na Índia, fiz uma conexão de um dia na Etiópia. A planta do café é originária da Etiópia. Aproveitei para sair do aeroporto e tomar um café tradicional etíope, com a planta tradicional, do modo tradicional. Acho que essa foi a experiência mais gourmet da minha vida. Valeu muito a pena, porque o gosto foi algo inesquecível. Quero muito voltar à Etiópia e repetir a experiência mais vezes.


Moagem tradicional dos grãos na cerimônia tradicional do café na Etiópia.
Fonte: Unsplash - Crédito: Taylor Wilcox


MINHA EXPERIÊNCIA COM VINHOS

De bolsa em bolsa de estudos, tive o prazer de conseguir a bolsa do Governo do Canadá para fazer parte do meu doutorado lá também (a bolsa chama ELAP, saiba mais clicando aqui).

Lá no Canadá, eu estava conversando com um canadense que apreciava muito a minha “erudição” e “cultura”. Aí ele puxou assunto sobre vinhos e ficou muito surpreso, porque eu não entendia nada. Lembrando que eu estava no Québec, a parte francesa do Canadá. Na França, a cultura dos vinhos é muito forte.

Eu já tinha visitado países onde a cultura do vinho é muito forte antes, tais como Chile, Portugal, Alemanha e a própria França. Até bebi vinhos lá. Mas como eu não tinha nenhuma educação e preparo para degustar, não tirei quase nenhum proveito dessa experiência.

A educação é fundamental para fazer a gente aproveitar as oportunidades que aparecem na nossa vida. Em todas as condições, há oportunidades de melhorar e crescer em algo. Mas, se não estamos preparados (educados), não percebemos.

Lembrando dessa “vergonha” que eu passei no Canadá, decidi dedicar o tempo de pandemia a aprender alguma coisa sobre vinhos. Mas, como aprender, se eu nem gostava de vinhos?

Fonte: Unsplash - Crédito: Pinar Kucuk - @pinarinsi


ROTEIRO PARA SER “ESPECIALISTA” EM QUALQUER COISA

Segue o meu roteiro de aprendizado:

1.            Conversar com pessoas que têm conhecimento sobre aquilo que você quer aprender

Primeiramente, troquei uma ideia com um amigo que degusta vinhos há muitos anos. Se eu conhecesse mais de uma pessoa assim, teria conversado com elas também. Quanto mais especialistas diferentes nós contatamos, durante essa “sondagem inicial”, melhor.

2.            Usar a tecnologia ao seu favor

Esse amigo me indicou um app de vinhos, onde eu posso fazer resenhas de vinhos e também ler resenhas de outras pessoas e me conectar com elas. A minha amiga belga também já tinha me mostrado um app de cerveja, mas eu achei que aquilo era uma bobagem desnecessária na época. Não é. Leva a crescimento.

3.            Disciplinar a experiência de aprendizado

Já que, em princípio, eu não gostava de vinho, eu só queria me tornar mais “culta” mesmo e conseguir manter uma conversa sobre vinho, resolvi sistematizar o aprendizado.

Criei uma rotina de degustação de vinho, toda a sexta-feira à noite. Preferencialmente acompanhada de familiares e amigos. Descobri que os países têm estilos de vinhos regionais registrados. Decidi que iria dar prioridade para os estilos sul-americanos. Porque, quando a gente viaja (ou mora fora), o que as pessoas querem mesmo saber é sobre as coisas boas e únicas do nosso país ou região.

O Brasil tem 9 estilos regionais de vinho. O Uruguai tem 2. O Chile tem 13. A Argentina tem 15. Descobri isso naquele app. Comecei a procurar e comprar um vinho de cada estilo por semana, ainda na cidade dos meus pais no interior de Minas Gerais. Para minha surpresa, eu encontrei vários e relativamente baratos. Depois tive que recorrer às compras online também. No meio do caminho, comprei alguns vinhos errados e também resolvi degustar os vinhos de outros países também (Itália, Israel e Hungria).

4.            Registrar de forma sistemática a experiência de aprendizado

O importante é que o meu amigo enólogo (especialista em vinhos) me passou um roteiro sobre o que eu (e os meus acompanhantes de degustação) deveríamos avaliar em um vinho. A gente degustava, respondia às perguntas do roteiro e anotava as respostas. Sempre. Ainda faço isso até hoje.

5.            Melhorar continuamente a sua sistemática para a experiência de aprendizado

Com o tempo, fomos aumentando/modificando o roteiro de perguntas.

Segue como ele está hoje:

·         Como estava o vinho?

·         Você sentiu que ele envolveu sua boca como um café ou chocolate? Ou foi leve como um suco ou água? (corpo do vinho)

·         Ele tinha complexidade de aromas ou era simples de entender? (nariz)

·         Era leve ou intenso?

·         Era suave ou tânico? (Os taninos são aquele gosto de fruta verde. Um amigo me convenceu que a gente sente melhor o tanino com a parte mais posterior da língua)

·         Era seco ou doce?

·         Macio ou ácido?

·         O álcool estava presente ou estava mais oculto?

·         O gosto que ficou depois de engolir (retro gosto) foi duradouro? (Se estiver na dúvida, beba água e note se ele continua) O retro gosto era rico ou era mais simples? O retro gosto era agradável?

·         Se for espumante, avalie a espuma.

·         Considerações sobre a cor, no centro e nas bordas da taça (opcional).

·         Considerações sobre a rolha e a facilidade de abrir (opcional).

O RESULTADO DESSE APRENDIZADO

Desde quando a pandemia começou, já degustei e registrei 32 (dos 39) estilos de vinhos da América do Sul. Em alguns casos, degustei mais de uma garrafa e, como eu disse, tomei vinhos de outros países também. O aplicativo está me falando que eu já registrei 49 avaliações.

Quando eu comecei, eu não gostava nem um pouco de vinho, porque eu não entendia nada. Agora não posso dizer que adoro vinho, mas, com o entendimento, aprendi a gostar mais.

Outro dia, eu vi um vídeo em que um rabino falava que até o amor é uma questão de aprendizado sistemático. Que nós devemos aprender a amar, primeiro. Para daí, então, cumprir os mandamentos de amar. Será mesmo? Isso faz sentido?

Também gostei desse caminho que estou trilhando. Fico bêbada e culta ao mesmo tempo (risos!).  Encontrei um português cujo pai era fabricante de vinhos. Ele me contou como ele fazia vinhos com pai na infância, a diferença entre cada processo, e eu pude, pelo menos, acompanhar a conversa. Mostrar algum interesse. Fazer perguntas. Eu não conseguiria fazer isso antes de passar por esse processo de aprendizado. Fiquei feliz, porque agora eu posso me conectar com mais pessoas sobre mais assuntos.

Espero que vocês tenham gostado. Já tiveram alguma experiência parecida? Se sim, por favor, deixe nos comentários. Também fico muito feliz se vocês tiverem mais recomendações sobre vinhos e sobre como degusta-los. Só deixar nos comentários.

O meu amigo Paulo, do blog PJPesquisa (link aqui), está começando uma série sobre produtividade e eficiência na produção. Ele criou o Eficiênciário, o nosso dicionário da eficiência produtiva. Como ele tem muita experiência com produção e transporte de produtos agrícolas, muitos exemplos são de produtos alimentares e agrícolas. Vale a pena segui-lo nas redes sociais (Instagram, Facebook e LinkedIn).

Fonte: Unsplash - Crédito: Maja Petric - @majapetric

Muito obrigada. Se quiser conversar mais, você me acha por aí, nas redes sociais...InstagramFacebook e LinkedIn.

 

SOBRE A AUTORA

Sou Isotilia, algumas pessoas também me conhecem como Ada. Sou engenheira, fascinada por tomadas de decisão em ambientes complexos e negociações. Sou apaixonada por Mentoria, Educação, Consultoria, Orientação e Pesquisa na área de Gestão e Tomada de Decisão, principalmente aquelas que envolvem a integração de métodos quantitativos e inteligência artificial.

Sou mestra e doutora em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente estou fazendo MBA em Negócios Digitais (USP) e sou orientadora dos projetos finais do curso de MBA em Gestão de Projetos (USP), desde 2018. Em transição para assumir um projeto na Universidad Adolfo Ibáñez (UAI ), no Chile, reconhecida por ter a melhor Escola de Negócios da América Latina. Já orientei mais de 50 projetos de gestão, apliquei-os a diversos setores.

Minha tese de doutorado foi o desenvolvimento de um modelo de gestão de custos de estoque, aplicado ao comércio eletrônico. Na minha dissertação de mestrado, desenvolvi indicadores para medir o desempenho de corredores de transporte, integrando três pilares da sustentabilidade (econômico, social e ambiental).

Amo viajar e ler. Já tive a oportunidade de visitar muitos países por motivos pessoais ou profissionais. Meu favorito era a Etiópia. Falo português, falo inglês, francês, espanhol e alemão. Apaixonado pela Natureza, meus esportes favoritos são caminhadas e montanhismo. Também pratico Yoga desde 2013. Namastê!

Comentários

  1. Sensacional!!! Adorei! 😍😍😍 Vou aplicar esse método na minha vida! Quero aprender tanta coisa! E ainda quero aprender degustação de café e vinhos com você! 🤩

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nem me fala. Também quero aprender mais coisas do que cabe em uma vida. Que bom que foi útil para você. Muito obrigada!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A SUÍÇA E SEUS ESCRITORES: DE ROMANCES A LIVROS EMPRESARIAS

HISTÓRIAS ÍNTIMAS – MARY DEL PRIORE

TRÊS TEMPLOS NA ÍNDIA: AKSHARDHAM, GALTAJI e SIDDHIVINAYAK