Explicando para minha mãe o que eu faço: Uma conversa sobre inteligência artificial e decisão

Você sabe o que é caviar? Você sabe o que é holônico?

Ao contrário do caviar, que eu conheço de nome (como diz a letra da música do Zeca Pagodinho), eu nunca tinha ouvido falar em holônico, até trabalhar com gestão de manutenção. Mas gostei muito do termo e agora eu uso para tudo. Estou louca para essa quarentena passar e eu poder usar holônico em uma conversa de bar (risos!). Então, vamos lá.

Holônico (holonic, em inglês) é uma combinação (geralmente em um ambiente, por exemplo, o corporativo) que combina regras fixas com estratégias flexíveis.

Esta definição de holônico vem de um artigo (de 2004) de um professor Ashraf Labib da Portsmouth Business School do Reino Unido (tudo vai aparecer nas referências).

Paralelamente, professores da Harvard Business School, Peter Weil e Jeanne W. Ross (também em 2004) propuseram, para TI (Tecnologia da Informação), os seis arquétipos para classificar a governança (organização) de TI: Anarquia, Feudalismo, Federalismo, Monarquia de Negócio, Monarquia de TI e Duopólio de TI.

No caso, os professores de Harvard foram específicos para o TI, enquanto Labib foi mais abrangente, para qualquer setor. Tive o prazer soluções do professor Labib em manutenção de linha trem, manutenção industrial, entre outras áreas. Além de ser mais abrangente, também é mais prático, já que 3 é sempre menos que 6. Por isso, vou me ater os conceitos do professor Labib aqui.

O professor Labib representou o holônico conforme a figura abaixo.

Hierárquico

No topo, podemos ver um ambiente Hierárquico. Nele as regras (de processo) são totalmente fixas e não há nenhum espaço (e/ou necessidade) para estratégias flexíveis. Provavelmente, esses ambientes são os mais fáceis de serem automatizados. Por exemplo, o atendimento “padrão” de um call center. Apenas digitando números (regras fixas), a pessoa pode ter o seu pedido atendido, sem nenhuma flexibilidade de negociação.

O ambiente hierárquico tem paralelo com o arquétipo da Monarquia do Negócio e Monarquia de TI. Talvez até com o Duópolio do TI.

Heterárquico

Na base, podemos ver um ambiente heterárquico. Acredito que nós podemos chamar também de anárquico (igual ao arquétipo de TI). Muito idealizado, é um modelo que funciona pouco na prática. Nele não existem regras fixas e as estratégias são totalmente flexíveis. Os indivíduos e pequenos grupos tomam suas decisões com base apenas em suas necessidades locais.

Holônico

O ambiente holônico é aquele que combina um pouco das duas características. Representado pelo retângulo cinza da figura. Ele é o que eu mais observo na prática. É semelhante ao Feudalismo e ao Federalismo. Também pode haver Duopólios de TI com características holônicas.

Para que servem alguns acadêmicos?

Por exemplo, é dentro do ambiente holônico que o planejamento de manutenção industrial se encontra. Nele, a inteligência artificial pode resultar em grandes impactos positivos, porém, é fundamental que haja o julgamento, o entendimento e a criatividade humana para que a flexibilidade estratégica seja utilizada da forma mais proveitosa possível. E é aí que eu entro. É bem nessa área que meus colegas e eu trabalhamos durante a maior parte da pós-graduação. Acadêmico serve (também) para isso, gente!

A figura abaixo mostra um ciclo de gestão.

Semelhante à gestão de Design Thinking (relembre no post anterior clicando aqui), o processo também se dá em 4 passos. Nele acontece, primeiramente, a coleta de dados, para o entendimento do problema, seguido da análise desses dados, para o aprofundamento do entendimento. Daí, acontece a parte em que eu mais gosto de atuar, a de suporte à decisão. Dentro do suporte, existem muitos modelos e muitas ferramentas matemáticas. Ainda quero falar de várias aqui, mas só nos próximos posts. Vamos por partes, porque minha mãe nem sempre é tão interessada assim no que eu faço (risos!).

Porém, para quem não pode esperar e quer se atualizar sobre as melhores ferramentas matemáticas de apoio à decisão, recomendo seguir os posts do Dr. Paulo Nocera Alves Junior (link para o LinkedIn dele aqui, link para o blog dele aqui). Além disso, tenho o prazer de orientar um MBA da Liliane Campos (link para o LinkedIn aqui), que está fazendo um excelente projeto sobre a interação humana com a inteligência artificial e, como as nossas limitações humanas, podem induzir a inteligência artificial a erros, levando a decisões também equivocadas.

Muito obrigada. Se quiser conversar mais, você me acha por aí, nas redes sociais...Instagram, Facebook e LinkedIn.

Referências

Citadas no texto:

LABIB, Ashraf W.. A decision analysis model for maintenance policy selection using a CMMS. Journal Of Quality In Maintenance Engineering. Londres, p. 191-202. abr. 2004.

WEILL, Peter; ROSS, Jeanne W.. IT Governance Archetypes for Allocating Decision Rights. In: WEILL, Peter; ROSS, Jeanne W.. IT Governance: How Top Performers Manage IT Decision Rights for Superior Results. Harvard: Harvard Business Review, 2004. p. 1-32.

As imagens foram elaboradas por mim, a partir de:

ASLAM-ZAINUDEEN, Nafisah; LABIB, Ashraf W.. Practical application of the Decision Making Grid (DMG). Journal Of Quality In Maintenance Engineering. Londres, p. 138-149. abr. 2011.

SOBRE A AUTORA

Sou Isotilia, algumas pessoas também me conhecem como Ada. Sou engenheira, fascinada por tomadas de decisão em ambientes complexos e negociações. Sou apaixonada por Mentoria, Educação, Consultoria, Orientação e Pesquisa na área de Gestão e Tomada de Decisão, principalmente aquelas que envolvem a integração de métodos quantitativos e inteligência artificial.

Sou mestra e doutora em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente estou fazendo MBA em Negócios Digitais (USP) e sou orientadora dos projetos finais do curso de MBA em Gestão de Projetos (USP), desde 2018. Em transição para assumir um projeto na Universidad Adolfo Ibáñez (UAI ), no Chile, reconhecida por ter a melhor Escola de Negócios da América Latina. Já orientei mais de 50 projetos de gestão, apliquei-os a diversos setores.

Minha tese de doutorado foi o desenvolvimento de um modelo de gestão de custos de estoque, aplicado ao comércio eletrônico. Na minha dissertação de mestrado, desenvolvi indicadores para medir o desempenho de corredores de transporte, integrando três pilares da sustentabilidade (econômico, social e ambiental).

Amo viajar e ler. Já tive a oportunidade de visitar muitos países por motivos pessoais ou profissionais. Meu favorito era a Etiópia. Falo português, falo inglês, francês, espanhol e alemão. Apaixonado pela Natureza, meus esportes favoritos são caminhadas e montanhismo. Também pratico Yoga desde 2013. Namastê!