As criptomoedas são uma inovação disruptiva? Afinal o que é uma inovação disruptiva?

Uma história baseada em fatos reais...

Tenho um amigo que mora na Europa há mais de uma década. Um tempo atrás ele resolveu informar à Receita Federal (RF) de que sua saída do Brasil era de caráter definitivo para não ter que pagar mais imposto de renda. A resposta da RF foi de que não poderia fazer isso porque ele ainda tinha uma conta ativa em um grande banco estatal brasileiro (vamos chamar de o “Banco”). A esposa deste amigo veio ao Brasil e tentou fechar essa conta por meio de uma procuração do marido. Ela foi ao Banco mais de cinco vezes, com diferentes procurações, e não conseguiu encerrar a conta, porque ela não tinha autorização para movimentar o “saldo” da conta bancária do marido, cerca de um Real e 15 centavos. Finalmente o meu amigo veio ao Brasil e foi ele mesmo, pessoalmente, encerrar a sua conta na sede do Banco. Pegou a fila, a senha (eram tempos pré-pandemia) e foi falar com caixa. Chegando ao caixa, apresentou todos os documentos de identificação pessoal, o atendente do caixa falou: “Tudo bem, vamos fechar a sua conta. Mas antes eu preciso verificar algumas informações pessoais suas.”


“Por favor, qual o sobrenome de solteira da sua sogra?”


Fonte: Unsplash - Crédito: Nickolas Nikolic


O meu amigo não sabia. Teve que ligar para esposa. E, ao todo esse processo levou um dia inteiro no Banco até que a conta fosse fechada. Eu sempre interpretei isso como uma forma de “racismo” ou “elitismo” brasileiro, difícil de ser traduzidos para outras culturas. O meu amigo tem uma mãe nordestina, embora ele seja “branco” no Brasil, ele pode apresentar vários símbolos que fazem as pessoas classifica-lo como “pessoa pobre”. Eu nunca tive um problema parecido, talvez porque eu “domine” o sistema bancário e como ele funciona. Uma vez eu precisava fazer uma operação incomum, eu fui pessoalmente ao Banco e eu ensinei a atendente como fazia. Ela me mostrou o monitor dela e eu dizendo onde apertar. Mas “fechar uma conta” não deveria ser uma operação “incomum” para um banco.

Por que eu estou contando essa história? Na época, eu não sabia, mas...


Essa é essência da inovação disruptiva!


A inovação disruptiva é feita criando produtos para grupos grandes de pessoas marginalizadas, por algum motivo. Normalmente, a marginalização é pela pobreza. Mas pode ser marginalização por cor de pele, religião, idioma, cultura, etc. Para tudo funciona. Como esse grupo é grande e marginalizado, ele fica estereotipado.


Foi aí que os bancos digitais surfaram. Foi identificando pessoas como o meu amigo.


Fonte: Unsplash - Crédito: Bemix Studio

Porque, dentre as pessoas marginalizadas pelos bancos tradicionais, muitas, de fato, tinham renda e eram boas pagadoras. Pessoas comprometidas, que almejavam deixar de ser marginalizadas. Nesse sentido, diversidade nas empresas não é bom só para ser “politicamente correto”, não. Colaboradores diversos trazem insights sobre grupos marginalizados. Entre as diversidades possíveis, existe a diversidade de origem social, que está começando a ser estudada pela vanguarda da teoria de administração de empresa (relembre o post que eu escrevi sobre isso, clicando aqui).


Christensen e a teoria de inovação disruptiva mais aceita atualmente


Ainda não temos um consenso mundial sobre inovação e inovação mundial. Pelo menos, eu não conheço. A pessoa mais famosa na área era o Professor de Harvard Clayton M. Christensen (1952 – 2020).


Clayton M. Christensen (1952 – 2020) - Fonte: Wikipédia

Conforme o artigo da Harvard Business Review (link aqui), intitulado “O que é inovação disruptiva?”, uma inovação, para ser disruptiva tem que ser:


1.             Barata. No início, ela vista como uma alternativa de baixo custo (e de qualidade inferior) a alguma coisa muito desejada pelo mercado (marginalizado). No nosso exemplo, os bancos digitais oferecem uma alternativa mais barata para pessoas que querem se bancarizar e são marginalizadas nos bancos tradicionais. Por isso, são vistos, no começo, com certa desconfiança. Banco digital também é banco?



2.             Mais fácil de usar. Dá para abrir e encerrar uma conta em um banco digital sem ter que informar o sobrenome de solteira da sogra. Talvez nem precise informar que se é (ou já foi) casado.



3.             Evolui rápida e continuamente, tanto em termos de produto quanto em tamanho de mercado. Ao final, “engole” o mercado tradicional e cria um novo ecossistema.



Segundo essa teoria, os carros da Tesla são uma inovação, mas não são uma inovação com potencial disruptivo. Eles não miram um público alvo que antes não podia andar de carro de forma individual e agora pode. Na semana passada, eu fiz um post no LinkedIn sobre o espelho da Lulumelon (de uso doméstico) que usa inteligência artificial para propor exercícios físicos para os clientes (link aqui). À luz da definição de Christensen, também não é uma inovação disruptiva, porque não está mirando em um público marginalizado que antes não poderia fazer exercícios físicos de outra forma. Ou está? O que vocês acham?

Para terminar, eu quero deixar uma última questão:


As criptomoedas são uma inovação disruptiva?


Para quem quiser saber mais sobre criptomoedas, recomendo o texto desta semana do Dr. Paulo Nocera Alves Junior (link aqui).


Muito obrigada. Se quiser conversar mais, você me acha por aí, nas redes sociais...InstagramFacebook e LinkedIn.


Boa semana!

Sobre a autora


Sou Isotilia, algumas pessoas também me conhecem como Ada. Sou engenheira, fascinada por tomadas de decisão em ambientes complexos e negociações. Sou apaixonada por Mentoria, Educação, Consultoria, Orientação e Pesquisa na área de Gestão e Tomada de Decisão, principalmente aquelas que envolvem a integração de métodos quantitativos e inteligência artificial.

Sou mestra e doutora em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente estou fazendo MBA em Negócios Digitais (USP) e sou orientadora dos projetos finais do curso de MBA em Gestão de Projetos (USP), desde 2018. Em transição para assumir um projeto na Universidad Adolfo Ibáñez (UAI), no Chile, reconhecida por ter a melhor Escola de Negócios da América Latina. Já orientei mais de 50 projetos de gestão, apliquei-os a diversos setores.

Minha tese de doutorado foi o desenvolvimento de um modelo de gestão de custos de estoque, aplicado ao comércio eletrônico. Na minha dissertação de mestrado, desenvolvi indicadores para medir o desempenho de corredores de transporte, integrando três pilares da sustentabilidade (econômico, social e ambiental).

Comentários

  1. Perfeito seu raciocínio, finalmente consegui compreender o significado de disruptivo! Por um mundo cada vez mais inclusivo!

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